Entenda com taxação do aço pelos EUA pode impactar siderurgia e indústria da região de Piracicaba

Economistas analisam setor e dinâmica mundial. Representante do Simesp afirma que deverá ocorrer ajustes na produção e resposta das usinas poderá ser desligamento de fornos para controlar a oferta e evitar a desvalorização do aço no mercado doméstico Com a decisão dos presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de taxar em 25% as importações de aço e alumínio, a partir de 12 de março, representantes do setor de siderurgia e economistas apontam os reflexos e quais seriam alternativas para o mercado lidar com o novo cenário.
De acordo com o Sindicato Patronal das Indústrias do setor metalmecânico de Piracicaba, deverá ocorrer ajustes na produção e resposta das usinas poderá ser desligamento de fornos para controlar a oferta e evitar a desvalorização do aço no mercado doméstico. – Entenda mais, na reportagem, abaixo.
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A economista Cristiane Feltre, professora e pesquisadora do Observatório da Região Metropolitana de Piracicaba (RMP), ressalta que a medida pode encarecer custos de produção nos Estados Unidos, impactando vários segmentos e aumentando o custo de vida da população.
A professora reforça que o aço é insubstituível em diversos setores, como a indústria automotiva e a construção civil, além de ser essencial para a infraestrutura energética e de exploração de petróleo e gás.
“A Região Metropolitana de Piracicaba, apenas 5% do aço exportado tem como destino os EUA. Os principais compradores do aço produzido na região são Peru, Bolívia e Países Baixos, o que reduz um impacto direto na economia local, ainda que o Brasil como um todo possa sentir os efeitos da sobretaxação”, pontua.
A economista faz uma ressalva: “A ArcelorMittal, uma das maiores produtoras de aço do mundo e com usina em Piracicaba, não tem seus dados de produção contabilizados em razão de seu domicílio fiscal não estar no município”.
Cautela e tentativa de negociação
O professor e pesquisador Carlos Vian, do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), o Campus da USP em Piracicaba, analisa o setor e faz um resgate de como era o panorama internacional da indústria mundial há cerca de 40 anos para entender o movimento.
“Essas taxações preocupam porque o Brasil é um grande exportador. Isso afeta a dinâmica de mercado e trazer problemas não só na inserção internacional mas problemas internos de adequação de oferta, pode alterar os preços relativos e tudo isso é preocupante”, analisa.
Por outro lado, o professor ressalta ainda que é preciso avaliar a medida com cautela.
“Essa tentativa de taxação ela realmente causa um grande burburinho inicial. Mas, temos que olhar com um pouco de cuidado. Acabou de ser tomada. Já começou a haver um processo de tentativa de negociação. Não sei como é que vai ficar isso em relação, principalmente à China, porque há uma discussão geopolítica um pouco mais complicada dos Estados Unidos com o país”, pontua.
Reordenação na indústria
De acordo com o especialista, que também é membro do Observatório da Região Metropolitana de Piracicaba (RMP), para compreender os efeitos da taxação do aço, é importante observar como era o cenário dessas relações comerciais e a dinâmica internacional.
“Nos anos 80, e durante os anos 90, houve uma grande reordenação da indústria mundial em geral em todas as áreas. Isso acabou repercutindo a abertura chinesa na época, criando as zonas de especial exportação. Uma série de acontecimentos também dos países do primeiro mundo fez com que houvesse uma reordenação”, lembra.
Naquele momento, retoma o professor, começou uma relocalização de vários segmentos industriais para outros países.
“A partir daí, Europa, Estados Unidos, Japão, que eram os grandes produtores mundiais, em todos os segmentos industriais, eles começaram a perder participação em alguns deles. O segmento de aço, de siderurgia, o Brasil cresceu, a Índia cresceu muito, a China também começou a crescer bastante a partir desse período”, relembra.
Ajustes na produção
O presidente do Sindicato Patronal das Indústrias do setor metalmecânico de Piracicaba, Saltinho e Rio das Pedras (Simesp), Erick Gomes, avalia que uma possível resposta das usinas será o desligamento de fornos para controlar a oferta e evitar a desvalorização do aço no mercado interno.
“No entanto, a reativação desses equipamentos é demorada, podendo gerar instabilidade nos preços. Além disso, a economia brasileira já enfrenta desafios como juros elevados e baixa demanda por investimentos, o que agrava o cenário para a indústria”, justifica. Erick Gomes também sugere que o Brasil poderia adotar medidas de retaliação, como taxar a exportação de minério de ferro para os EUA, reduzindo sua capacidade produtiva de aço.
Decreto
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou no último dia 10 de fevereiro um decreto que impõe tarifas de 25% para todas as importações de aço e alumínio para o país a partir de 12 de março.
A medida, que pode atingir em cheio o setor de siderurgia de países como México, Canadá e Brasil, faz parte de uma das principais promessas de campanha de Trump: a taxação de produtos estrangeiros para priorizar a indústria norte-americana.
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