Estudo in vitro sugere que linhagem de vírus achado em morcegos pode ter potencial para transmissão humana


Pesquisadores do Instituto de Virologia de Wuhan e do Laboratório de Guangzhou, na China, identificaram em laboratório que o betacoronavírus HKU5-CoV é capaz de usar o mesmo receptor para entrar nas células humanas que o SARS-CoV-2. Uma espécie de morcego Pipistrellus abramus, comum no leste e sul da Ásia.
Manuel Ruedi
Um estudo publicado na revista científica “Cell” neste mês de fevereiro aponta que o betacoronavírus HKU5-CoV, achado em morcegos, é capaz de usar o mesmo receptor usado pelo SARS-CoV-2 para entrar nas células humanas.
A conclusão foi obtida em um estudo que teve uma etapa in vitro (quando o vírus foi inoculado em organoides, espécies de células artificiais) e outra etapa baseado em modelos computacionais. A pesquisa foi conduzida em laboratório por pesquisadores do Instituto de Virologia de Wuhan e do Laboratório de Guangzhou, na China.
Chamado de HKU5-CoV, o patógeno foi descoberto pela primeira vez em 2006 em morcegos da espécie Pipistrellus abramus, comuns no leste e sul da Ásia, e era pouco estudado até recentemente.
A pesquisa, realizada em modelos celulares que simulam células humanas (organoides), mostrou que o vírus tem o potencial de se ligar aos mesmos receptores usados pelo SARS-CoV-2. Isso sugere que, em teoria, ele poderia ser transmitido para humanos em um processo chamado “spillover”.
Sem motivo para preocupação
Ao g1, a bióloga Mel Markoski, pós-doutora em Imunologia e professora de Biossegurança da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), explica que, embora o estudo mostre que o microorganismo possui o potencial de se ligar a esses receptores, ele ainda é apenas uma previsão baseada em dados laboratoriais.
“Isso não significa que o vírus tenha as condições necessárias para causar uma infecção real em humanos”, afirma a pesquisadora.
Embora o estudo mostre que o vírus tem o potencial de se ligar a esses receptores, não há ainda evidências que indiquem que ele tenha a capacidade de causar uma infecção em humanos.
“O importante é sempre fugir dos extremos: não é algo totalmente irrelevante, mas não é uma nova pandemia decretada”, acrescenta Isaac Schrarstzhaupt, doutorando em Epidemiologia pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (Usp) e coordenador da Rede Análise Covid-19.
Outro ponto importante destacado por pesquisadores ouvidos pelo g1 é que a análise foi realizada com base em previsões computacionais, ou seja, a avaliação estrutural do vírus foi feita a partir de modelos, e não por meio de observações diretas de infecções naturais.
“Não sabemos se o vírus tem as condições necessárias para causar uma infecção real em humanos, mas sabemos que ele é capaz de infectar células humanas em cultura (in vitro) e que utiliza o mesmo receptor (chamado de ACE2) que o SARS-CoV-2 para se ligar à célula”, resume o médico Salmo Raskin, geneticista e diretor-médico do Laboratório Genetika, de Curitiba.
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