Justiça condena suspeito de aplicar ‘golpe do amor’; denunciantes falam em ao menos 15 vítimas


Condenação é referente a um dos casos, no qual ele apresentou falsa vida de privilégios à vítima mas, depois, relatou problema com contas bancárias e passou a pedir empréstimos a ela, segundo acusação. Danilo de Souza Melo já tinha sido denunciado por outras mulheres
Arquivo pessoal
A Justiça condenou um morador de Limeira (SP) acusado de causar um prejuízo de R$ 30 mil a uma mulher com quem manteve um relacionamento, em um tipo de estelionato conhecido como “golpe do amor”.
Segundo a acusação, ele apresentou a ela uma falsa vida de privilégios financeiros mas, depois, relatou um problema temporário com suas contas bancárias e passou a pedir empréstimos à vítima. Cabe recurso contra a decisão.
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De acordo com reportagem de O Globo, Danilo de Souza Melo faz vítimas desde 2019, com um “modus operandi” parecido nos diferentes casos.
No caso com condenação recente – na última sexta-feira (26) -, a vítima relatou que se mudou para Lisboa em 2018, onde mora até hoje, e conheceu o rapaz em uma festa da faculdade. Então, começaram um relacionamento afetivo por volta de outubro de 2018. Segundo ela, Danilo dizia que trabalhava em uma empresa junto à bolsa de valores na Europa e chegou a lhe prometer um trabalho.
No entanto, conforme o relato da vítima, ele dizia que vinha de um divórcio que estava em segredo de Justiça e, por isso, tinha contas bancárias bloqueadas no Brasil, o que gerava dificuldades para ele levar dinheiro a Portugal.
Por conta disso, segundo a vítima, o rapaz pedia empréstimos a ela e dizia que pagaria quando as contas estivessem liberadas, após a assinatura do divórcio. A mulher relatou que realizou vários empréstimos, que totalizaram 12.727,50 euros, o equivalentes a R$ 62.104,00. E que também custeou passagem e hospedagem em Madrid, na Espanha, e passagem para a cidade de Porto, em Portugal, para supostas reuniões de trabalho dele.
Casal brasileiro se conheceu em Lisboa, em Portugal
AP Photo/Armando Franca
‘Mexia com a parte psicológica’
Os repasses aconteceram entre outubro de 2018 e junho de 2019. Em maio, segundo ela, Danilo exigia mais dinheiro “um pouco mais veementemente” e dizia que o pai e mãe dele iriam para Portugal e levariam recursos para que ele pudesse reembolsá-la. Além disso, dizia que sua mãe estava com câncer.
Ele mexia muito com a parte psicológica de induzir a boa fé da declarante e o fato de gostar dele, de ter pena da mãe com câncer, hospitalizada, a irmã bateu carro com o sobrinho. Nunca tinha conhecido alguém tão evoluído nesse sentido para montar esse tipo de situação que nunca esperou que fosse mentira
Descoberto por foto em churrasco
Ela relatou que se deu conta de que se tratava de um golpe quando viu no Instagram de uma menina que Danilo estava em um churrasco e não em uma reunião de trabalho, como tinha informado.
“Tudo o que estava cega, muito boba nesse sentido, ingênua, veio à tona. Não havia trabalho, dinheiro nenhum dele a receber e tinha sido enganada”, diz outro trecho do depoimento.
Segundo ela, ao questioná-lo, o rapaz confessou tudo, disse que não tinha dinheiro e que “tinha esse problema e precisava se tratar”. A mulher contou que descobriu que, na verdade, ele trabalhava no call center de uma terceirizada da empresa onde dizia atuar.
Ela contou a situação aos pais do acusado e recebeu R$ 30 mil de ressarcimento, o equivalente a metade do que tinha repassado a ele. No entanto, teve de pedir empréstimo para poder pagar suas contas.
A mulher disse que ainda recebeu informação dos pais de que Danilo estaria depressivo e passava o dia no quarto, chorando. Mas, em rede social, viu que ele estava indo para festas e saindo com uma menina.
Por causa de toda a situação, ela precisou passar por terapia.
Segundo a vítima, Danilo relatava que trabalhava em empresa ligada à bolsa de valores
Pixabay/Divulgação
Denunciantes falam em ao menos 15 vítimas
Então, a ex-esposa dele entrou em contato, depois que viu o caso na TV, e disse que ele já tinha aplicado o golpe em Limeira, com a família dela, e que “já era algo que já existia antes”.
Tem gente espalhada pelo Brasil inteiro, o discurso é muito semelhante.
Ela acrescentou que existe um grupo de WhatsApp integrado por 15 a 20 mulheres que relatam que passaram por situações parecidas com Danilo. A existência desse grupo foi confirmada por outra vítima que foi testemunha no processo.
Essa outra vítima informou que, no seu caso, ele pegou dinheiro seu para fazer investimentos e não fez. Também disse conhecer vítimas de Minas Gerais, Campinas e Curitiba.
Ela e outras testemunhas confirmaram padrões nos relatos do réu, como o fato de trabalhar em empresas do mercado financeiro, possuir dinheiro e bens, mas ter contas eram bloqueadas por causa da separação.
Acusado dizia que tinha dinheiro em contas bancárias bloqueada por causa de divórcio, disse vítima e testemunhas
MIGUEL MEDINA/AFP
Acusado diz que revelou perda de emprego
Já Danilo, em depoimento, disse que teve um curto relacionamento com a vítima, que ela sabia que ele tinha perdido o emprego e que ela disse que “seguraria as pontas”. Também afirmou que seu pai devolveu dinheiro referente a gastos fixos de moradia, viagens e comida. E que recebeu entre R$ 225 mil a R$ 230 mil do apartamento que morava com a ex-mulher e seu trabalho é investir esse dinheiro.
“As testemunhas de acusação confirmaram que o réu utilizava desse ‘modus operandi’ para enganar e ludibriar as pessoas, com a finalidade de obter vantagem ilícita em prejuízo alheio”, aponta a juíza Fernanda Galizia Noriega, da 28ª Vara Criminal de São Paulo, em sua decisão.
A magistrada determinou que ele faça ressarcimento de R$ 30 mil à vítima e o condenou seis vezes por estelionato, cometido por meio “de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade”. A pena de dois anos, três meses e seis dias de prisão em regime inicial aberto foi substituída por prestação de serviços à comunidade ou entidades públicas, além de pagamento de um salário mínimo a uma instituição.
Na ação, o acusado é representado pela Defensoria Pública que, ao g1, informou que como praxe em ações criminais, apenas se manifesta nos autos do processo. A reportagem não conseguiu contato com Danilo até a última atualização desta reportagem.
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