Seu Jorge segue o baile em álbum que alterna suingues carioca e baiano sem misturar os dois universos musicais


Cantor lança disco festivo, criado com Magary Lord e Peu Meurray, importantes artistas de Salvador. Capa do álbum ‘Baile à la baiana’, de Seu Jorge
Flor Jorge
♫ OPINIÃO SOBRE DISCO
Título: Baile à la baiana
Artista: Seu Jorge
Cotação: ★ ★ ★
♬ Anunciado por Seu Jorge em janeiro de 2021, o álbum Baile à la baiana chega ao mundo quatro anos depois com boas vibrações e com discurso que alardeia a harmonização da música carioca com o suingue afro-pop-baiano dos sons de Salvador (BA).
Foi nessa cidade que Jorge conheceu dois cantores e compositores baianos, Magary Lord e Peu Meurray, em espaço cultural intitulado Galpão Cheio de Assunto e liderado por Meurray, requisitado percussionista da capital da Bahia. Ambos são nomes fundamentais na criação do disco disponibilizado no domingo, 16 de fevereiro.
Só que, na teoria, a prática é outra. O que se ouve em Baile à la baiana é som sempre festivo, calcado ora no suingue matricial das obras dos pioneiros cariocas Jorge Ben Jor, Tim Maia (1942 – 1998) e Wilson Simonal (1938 – 2000), ora no balanço do samba baiano, da chula e de outros gêneros rotulados genericamente como axé music.
Ao longo de onze músicas inéditas, Seu Jorge transita entre esses dois ricos universos musicais sem realizar propriamente a fusão entre os dois mundos.
Em qualquer vertente, o cantor segue o baile com som moldado para as baladas, seja essa balada uma festa baiana ou um baile black de soul, funk e samba-soul.
A primeira parte do Baile à la baiana contradiz o título do álbum com faixas essencialmente à moda carioca, típicas da discografia de Jorge, cantor e compositor revelado nos anos 1990 como vocalista do grupo Farofa Carioca.
Nesse bloco inicial, os arranjos de músicas como Sábado à noite (Seu Jorge, Magary Lord, Peu Meurray e Adriano Tenório), Sete prazeres (Seu Jorge e Peu Meurray) e Sim mais (Seu Jorge, Peu Meurray e Erik Firmino) evidenciam os sopros, e não o baticum que sustenta boa parte da música baiana. Batuque (Seu Jorge, Magary Lord e Peu Meurray), por exemplo, está longe de ser faixa de acento percussivo, como sugere o título.
Nem o canto de Peu Meurray – convidado de Jorge em Gente boa se atrai (Peu Meurray, Fefê Gurman, Betão Aguiar e Tito Oliveira), no samba-rock Mudou tudo (Seu Jorge e Peu Meurray) e na já mencionada Sete prazeres – atenua a predominância do suingue carioca nessa (repetitiva) parte inicial do álbum.
O tempero baiano fica forte somente a partir da aliciante sexta faixa, Chama o Brasil pra dançar (Seu Jorge, Magary Lord, Paulo Bass e Don Chicla), esta, sim, música formatada com o balanço buliçoso da Bahia preta.
Composição caracterizada como “black semba”, Shock tem a assinatura de Pierre Onassis, parceiro de Seu Jorge e Magary Lord nesta faixa também situada na Bahia. Onassis – cabe ressaltar – é um dos grandes compositores da música baiana unificada sob o abrangente rótulo de axé music.
No álbum Baile à la baiana, Pierre Onassis também assina Lasqueira em parceria com Fábio Alcantâra e Magary Lord, que participa como cantor dessa faixa entranhada no sobe-e-desce das ladeiras de Salvador (BA), assim como Amor de canudinho (Magary Lord e Samir Trindade).
Amor de canudinho poderia figurar no disco de qualquer nome da já quarentona axé music. Assim como a última faixa do álbum, Dia de mudança (Magary Lord, Fábio Alcântara, Samir Trindade e Magno Santana), cantada por Seu Jorge com Magary Lord.
Enfim, Baile à la baiana termina com a sensação de que Seu Jorge dividiu o disco em duas partes bem distintas – com superioridade do bloco de faixas baianas – sem realizar de fato a alardeada harmonização entre a música carioca e os sons de Salvador (BA).
Seu Jorge (ao centro) entre Magary Lord (à esquerda) e Peu Meurray, nomes fundamentais na criação do álbum ‘Baile à la baiana’
Vinny Campos / Divulgação
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