Saudosa volta às aulas

Meu sonho era estudar, ir à escola, ter tema para fazer. Eu observava meu irmão mais velho e sempre perguntava para minha mãe quando seria a minha vez. Lembro bem dele sentado à mesa, uma redonda que tínhamos, com seus livros e cadernos para realizar a lição. Eu sentava próximo, com livros de anos anteriores e “brincava” de fazer as tarefas. Aos 6 anos, chegou a minha vez. Não sei quantas vezes tirei e coloquei o material na mochila, passava um bom tempo admirando todo meu aparato estudantil. Os cadernos foram encapados, primeiro com uma folha colorida e depois com um plástico por cima. Lápis, canetinhas, giz de cera, lápis de cor, borracha, tudo novinho para me acompanhar.

Morávamos longe da escola e o caminho era longo, mas, mesmo assim, fiz questão de levar minha mochila repleta de materiais. Mais de uma vez a mãe perguntou se queria ajuda, a resposta: – Não, mãe. Eu consigo. Senti-me a criança mais importante aquele dia, a menina que ia para a escola, para aprender e brincar. Em casa e em todo o percurso, a mãe ia me explicando como seria, o que ia ter, do respeito à professora. Quando chegamos, fomos conferir a sala e nos dirigimos a ela. Minha mãe abriu a porta e lá estavam dezenas de crianças com seus pais, a grande maioria chorando, não querendo ficar.

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A mãe entrou comigo e pediu que eu escolhesse um lugar para sentar. Escolhi a classe, abri a mochila, botei alguns materiais na mesa e disse para minha mãe que ela podia ir embora. Ela foi. Eu fiquei, ouvindo os apelos de meus futuros coleguinhas para voltarem para casa. Até que a professora chegou. Sorriso largo tinha a profe Janei, cabelos encaracolados, olhos bonitos. Aos pouco foi acalmando a turma, conversando e teve a ideia de irmos ao pátio para brincar. Pediu uma fila e seguimos para a rua. Lá fomos nós, pequenos desconhecidos prontos para desbravar o mundo das letras.

Mas, no pátio, uma surpresa me aguardava. Sentada em um banco, junto a uma outra mãe, estava a dona Valéria, minha mãe! Fiquei chateada, afinal, eu agora era uma estudante, ela podia ir embora. Mais tarde, em casa, me explicou que ficou receosa ao se deparar com tantas crianças chorando. Como eu nunca tinha ido à escola, achou que eu pudesse me assustar e pedir por ela. Eram outros tempos, não tínhamos telefone, nossa casa era distante, qualquer coisa que acontecesse, ia demorar até ela chegar. Mas voltei a argumentar que não precisava, que eu não ia chorar. E nunca chorei. Eu aproveitava tudo que a escola oferecia, inclusive a merenda, que eu amava! Um beijo para minha querida Cacá, a primeira “tia” da merenda que conheci.

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Escola para mim era sinônimo de segunda casa, passava boa parte do meu tempo por lá. Principalmente quando fui estudar no bairro onde morava. Tenho amigos de escola que mantenho até hoje. Lembranças lindas (outras nem tanto) vividas neste espaço, muitas vezes, tão pouco valorizado. Eu participei de tudo que podia, feira de ciências, grupos de danças, patrulha ecológica, gincanas, inter-séries, campanhas, teatro, mutirões de limpeza, campanhas. Se a escola propusesse, lá estava eu, pronta para encarar!

Esta semana, me deparei preparando as coisas do meu filho para seu primeiro ano. As memórias foram todas revisitadas. Lembrei que na minha época, sim, clichê mas real, era primeira série. Os cadernos não precisam mais ser encapados. Não é mais preciso usar a primeira folha para identificação, é só colar etiquetas com nome e ano. As mochilas têm as mais variadas formas, cores e tamanhos. Sem contar que podem ter ou não rodinhas. As lancheiras são modernas e térmicas! Eu ali, organizando e sentindo saudade de tudo que já vivi. Desejando que ele, assim como eu, aproveite cada segundo. Mas ao levá-lo, vi que algo o tempo não consegue mudar. Assim como minha mãe, meu desejo também foi o de ficar. Em meio à multidão e balbúrdia daqueles que vão se despedir da escola, cumprindo o último ano, ele chorou. Aguentei firme, mas depois chorei também! Diferentemente dos materiais, as mães permanecem as mesmas!

No mais, um bom ano letivo a todos!

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