O medo e nossas escolhas

Estamos aqui porque há milhões de anos nossos ancestrais sentiram medo. E com medo, adotaram a cautela: “Hum, acho que hoje vou ficar na caverna porque aquele gato enorme lá fora quer me devorar.”
Somos, afinal de contas, os descendentes dos medrosos. Os corajosos, também conhecidos como “sem noção”, não sobreviveram para deixar herdeiros.

É o que diz a ciência. Há uns 300 mil anos temos nos assustado com o desconhecido. E antes de nós, homo sapiens, nossos antepassados de outras espécies vinham aprendendo a arte de escapar dos perigos.

Podemos nem perceber, mas é na rotina, na previsibilidade, que nossa mente se aquieta. Se algo foge, ou parece fugir do nosso controle, a ansiedade aparece. Diante de uma mesma situação, as reações podem ser bem diferentes. Alguns lidam positivamente. Outros se estressam. Outros ficam péssimos. Outros entram em desespero e assim por diante. Em certos casos o coração da pessoa dispara, as mãos suam, o corpo treme, o peito aperta. Olha nosso cérebro reptiliano em ação.

É surpreendente saber que chegamos ao século XXI com esses mecanismos um tanto intactos. Não vivemos mais em cavernas, não precisamos sair para caçar e comer, as guerras são quase sempre com os outros e, quanto melhor nossa condição social, mais seguros estamos. E, no entanto, o medo, contornável ou irredutível, continua ali.

Esse negócio é tão presente, que tem influência em todas as escolhas importantes. Quem serão nossos amigos, o parceiro, em qual escola matricular os filhos, em qual candidato votar, qual livro ler… ou não ler.

A forma como lidamos com os desafios são objeto de estudos. Indivíduos com maior tolerância à incerteza e maior abertura a novas experiências podem estar inclinados a adotar posturas progressistas. O contrário também ocorre. Quem valoriza a ordem e a segurança, e se sente muito desconfortável diante de ambiguidades, tende a ser conservador.

Quem diz isso não sou eu. São neurocientistas e psicólogos. Na parte que me toca, acho tudo muito difícil de categorizar. O avanço brutal da tecnologia não nos trouxe sossego. Perdemos a capacidade de discernir entre falso e verdadeiro. Entre real e imaginário.

Como nos viramos com isso, depende de cada um. Mas uma abordagem me parece útil para todos: não se apavore pelo que ainda não veio. Na maioria das vezes, o que nos amedronta nunca acontece. É só medo mesmo.

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