Após prisões e denúncias de corrupção, Derrite faz mudanças na coordenação de delegacias e departamentos da Polícia Civil


Secretário de Tarcísio mudou ao menos quatro nomes de delegacias e departamentos importantes da SSP. Demacro, DAP, Dipol e Deinter 6, em Santos, terão novos delegados no comando. Em janeiro, Derrite já havia mudado os comandos do Deic, Denarc e da Corregedoria. O secretário da SSP, Guilherme Derrite (PL), ao lado de Artur Dian e Oswaldo Nico Gonçalves.
Divulgação/SSP
O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite (PL), promoveu nessa segunda-feira (10) novas mudanças na coordenação de algumas delegacias importantes do estado.
As mudanças acontecem depois casos de violência e corrupção que vieram à tona nos últimos meses, registrados na Polícia Civil e também na Polícia Militar, principalmente de agentes presos por suspeita de envolvimento com o PCC.
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Apesar das mudanças, Derrite manteve a cúpula duas polícias, como o coronel Cássio Araújo de Freitas (comandante-geral da PM), o delegado-geral da Polícia Civil, Artur Dian, e o secretário-executivo da SSP, Osvaldo Nico.
As principais mudanças promovidas por Derrite foram as seguintes:
Luiz Carlos do Carmo assume o Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo (Demacro), responsável pelas delegacias da Região Metropolitana de SP;
Flávio Ruiz Gastaldi vai para o lugar de Luiz Carlos no Deinter 6, em Santos, no Litoral de SP
Júlio Guebert, que estava no Demarcro, vai para o Departamento de Administração e Planejamento (DAP), da Polícia Civil;
Marcelo Jacobucci assume o Departamento de Inteligência da Polícia Civil (Dipol).
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No mês de janeiro, Derrite já havia trocado a direção de outros departamentos, como o DEIC, o Denarc e a Corregedoria, na esteira das denúncias de corrupção oriundas do caso Vinícius Gritzbach – o delator do PCC morto em novembro de 2024, no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos.
Segundo a força-tarefa criada pelo próprio Derrite para investigar a morte de Gritzbach, 26 pessoas estão presas atualmente nos desdobramentos do caso Gritzbach, sendo 22 policiais, entre civis e militares.
Entre os presos, três policiais militares suspeitos de terem participado diretamente da execução do delator no aeroporto.
Entre as hipóteses investigadas para esclarecer o assassinato de Gritzbach estão a de que o PCC cooptou policiais, os contratando para matar o empresário. O motivo seria o fato de ele ter delatado criminosos e agentes.
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‘Confio no time’
Tarcísio de Freitas (Republicanos)
Reprodução/TV Globo
A decisão do secretário da SSP de não mexer na cúpula das polícias coincide com as declarações dadas em dezembro pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que afirmava que não tinha planos de fazer mudanças na Secretaria da Segurança Pública ou na Polícia Militar mesmo após uma série de casos recentes de violência policial no estado.
Tarcísio também defendeu, na época, a manutenção do próprio Guilherme Derrite no comando da SSP, dizendo que confiava em sua equipe. Na época, ele atribuiu a si mesmo a culpa por possíveis erros cometidos pela corporação.
Ele [Derrite] está muito aberto para receber as orientações. É um profissional estudioso. Às vezes, tem uma questão de comunicação que precisa ser ajustada. Tenho que confiar no meu time. E eu vou confiar no meu time.
Segundo ele, não se deve fazer mudanças em “momento de crises”.
“Em momento de crises, você não deve fazer mexidas. Não é a hora. Imagina que, a cada momento difícil que você enfrentar, eu deixo de ter confiança nas pessoas e parto para uma mudança generalizada. Interpreto isso como uma coisa ruim. Entendo que, ao fim e ao cabo, a responsabilidade é minha. Eu sou o governador do estado. Não posso atribuir responsabilidade para A, B ou C. Responsabilidade é minha. Tem problema. Vamos corrigir”, completou.
Um dos casos que chocaram a opinião pública e geraram forte repercussão foi o do homem arremessado do alto de uma ponte por um policial militar na Zona Sul de São Paulo, no último domingo (1°). Ele está preso por determinação da Justiça Militar.
O soldado foi filmado atirando o rapaz da ponte sem nenhum motivo ou resistência aparente. A vítima caiu de cabeça de uma altura de três metros e teve ferimentos, mas passa bem.
Vídeo mostra momento em que PM joga homem de ponte durante abordagem em SP
Reprodução/TV Globo
Em novembro, um estudante de medicina foi morto com um tiro à queima-roupa durante uma abordagem policial. A ação foi registrada por uma câmera de segurança.
Em outro episódio, agora na cidade de Barueri, na Grande São Paulo, policiais militares agrediram uma mulher de 63 anos e deram um golpe de mata-leão (proibido pela instituição desde 2020) em seu filho durante abordagem na garagem da família. As cenas também foram gravadas.
Policiais agridem família durante abordagem na garagem deles
Reprodução
Mudança de ideia sobre câmeras corporais
Tarcísio reconheceu que “tinha uma visão equivocada” sobre as câmeras corporais na farda dos policiais militares e disse que hoje está “completamente convencido que é um instrumento de proteção da sociedade e do policial”. Ele acrescentou que não apenas vai manter o programa como o ampliará.
Você pega a questão das câmeras: eu era uma pessoa que estava completamente errada nessa questão. Eu tinha visão equivocada, fruto da experiência pretérita que eu tive. Não tem nada a ver com a questão da segurança pública. Hoje estou completamente convencido que é um instrumento de proteção da sociedade e do policial. E nós vamos não apenas manter, mas ampliar o programa. E tentar trazer o que tem de melhor em termos de tecnologia.
Os policiais militares de São Paulo já usam câmeras nas fardas, mas a Polícia Militar de São Paulo se prepara para passar a adotar um novo modelo de câmera corporal nas fardas em que a gravação de vídeos pode ser acionada pelo próprio policial. Atualmente, as câmeras usadas gravam automaticamente.
O governador disse que o novo modelo só entrará em operação depois de testadas todas as funcionalidades.
“Eu vou fazer com que a implantação dessas câmeras agora seja um sucesso. E funcione realmente para o fim que ela serve: que é proteger o cidadão, o bom policial. A gente quer sim ter informação, acompanhar o que está acontecendo”, apontou.
Ao ser questionado sobre os casos recentes de violência, Tarcísio disse que vai fazer uma reciclagem de 100% da tropa.
“Quando os policiais estão se envolvendo em ocorrências, como aconteceu em Barueri agora, eles são imediatamente recolhidos à corregedoria e todos serão. Inicia-se ali a reciclagem. A gente vai fazer o processo de reciclagem do efetivo como um todo. Nós vamos repassar os treinamentos e publicizar os procedimentos operacionais, vamos fazer com que isso seja internalizado”, afirmou.
Dados do Ministério Público apontam que as mortes cometidas por policiais militares no estado de São Paulo aumentaram 46% até 17 de novembro deste ano, se comparado a 2023.
A violência policial em SP
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