Magazine: batalhas pela vida

Em 2014, a escritora e jornalista carioca Heloisa Seixas lançou um romance no qual tematizava sucessivas batalhas (e que batalhas!) pela vida enfrentadas pelo seu personagem principal. Que, no caso, era seu companheiro, o também escritor e jornalista Ruy Castro. Tratavam-se, a romancista e o protagonista, dois dos grandes artistas em atividade na cena literária nacional.

O detalhe é que a obra, O oitavo selo: quase romance, na época saiu pela editora Cosac Naify, que encerrou suas atividades em 2015. Com isso, o livro, a exemplo do restante do catálogo, deixou de estar disponível no mercado. Dez anos depois, na reta final do ano passado, a Companhia das Letras determinou-se a relançar o volume, que agora chega novamente às livrarias na próxima terça-feira. Será a oportunidade para os leitores retomarem contato com uma obra que contextualiza a relação de amor, ternura e cuidados mútuos de dois grandes autores.

O subtítulo de O oitavo selo sinaliza para um intertexto com outra narrativa da literatura nacional contemporânea, Quase memória: quase romance, do também carioca Carlos Heitor Cony (1926-2018), a quem o livro inclusive é dedicado. Se este utilizava como elemento as memórias associadas a seu pai, já falecido, Heloisa ocupa-se das temporadas em que se viu às voltas com o companheiro, Ruy Castro, sucessivamente afetado por problemas de saúde de alta gravidade.

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Assim, o subtítulo “quase romance” mais uma vez contribui para situar a narrativa de Heloisa no terreno mesclado entre o real e o ficcional, ou ao menos num real organizado em forma de texto. Na edição, intervenções marcadas tanto do próprio Ruy Castro quanto de Heloisa ampliam ou reverberam os acontecimentos narrados, o que estabelece ainda mais o caráter depoimental da obra.

Em novembro de 2024, Heloisa e Ruy estiveram em Porto Alegre, para atividades na programação da Feira do Livro. Na ocasião, ambos concederam entrevista exclusiva à Gazeta do Sul: a com Ruy foi veiculada na edição dos dias 30 de novembro e 1o de dezembro.

Angústia e ternura em meio a livros

O leitor que tiver se munido de informações básicas sobre o livro O oitavo selo: quase romance, de Heloisa Seixas, saberá, de antemão, quem é o personagem principal da obra, e saberá que se trata de uma pessoa real: o escritor Ruy Castro. Heloisa tematiza, mas em linguagem de romance (logo, obedecendo a estatutos da narrativa de ficção), a série de contratempos de saúde que o companheiro teve ao longo de meses e anos. Muitos destes foram gravíssimos, colocando a própria vida dele em risco.
Tais ocorrências são apresentadas em cada um dos sete capítulos, nomeados como “selos”, em alusão aos sete selos do Livro do Apocalipse, na Bíblia. O texto referente ao “oitavo” selo do título é o da abertura, que respalda, de certo modo, a proposta ficcional de Heloisa.

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A exemplo do que também fizera Carlos Heitor Cony, em Quase memória: quase romance, sugerindo equilibrar-se entre lembranças de fatos verídicos, efetivamente ocorridos, e uma abordagem ficcional pura e simples, também Heloisa organiza sua narrativa como se fosse um romance. Sempre remetendo à convalescença de Ruy. De tempos em tempos, este marca presença no livro, devidamente nomeado, com informações em adendo que traz em primeira pessoa.

Algo que se salienta, em diversos momentos, é a intensa relação de Ruy (e de Heloisa) com a literatura, e o quanto isso é determinante para sua recuperação. A relação deles é toda construída em torno da literatura, com a importância atribuída à leitura (momento de pausa, de resguardo), mas igualmente à escrita, ambas como espaço de amparo ou proteção quando até mesmo a saúde se encontra muito fragilizada.

Casal digno de romance

Heloisa com o companheiro, o também escritor Ruy Castro, o personagem de seu livro

A obra literária de Heloisa Seixas e de Ruy Castro, assinada por cada um deles, é plenamente autônoma e se basta por si só. Ambos firmaram seu nome com um estilo próprio e com a aposta em gêneros específicos. Mas a história de um deles foi sendo conduzida lado a lado com a do outro, a partir do momento em que se conheceram. Assim, há 35 anos, desde 1990, a cada novo título lançado por um deles, o outro estava ali, ao lado, apoiando e prestigiando.

A estreia de Heloisa, em 1995, com Pente de Vênus, ocorreu quando eles já conviviam há vários anos. E se relaciona com o Rio Grande do Sul, como ela conta em entrevista exclusiva à Gazeta do Sul, realizada por ocasião da vinda do casal à Feira do Livro de Porto Alegre, em novembro de 2024 (naquela oportunidade, Heloisa autografou O livro dos pequenos nãos: romance).

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Tendo surgido nas livrarias com os contos de Pente de Vênus, nos anos seguintes Heloisa firmou-se na literatura brasileira com romances, novelas, contos infantis, crônicas (e até livros de receitas). Também desenvolveram projetos a quatro mãos, como, em 2011, Pena e pincel e o saboroso Terramarear, com relatos de viagens que fizeram juntos, e que descrevem cada um a partir de seu ponto de vista.

Por sua obra, Heloisa foi três vezes finalista do Prêmio Jabuti, o mais importante na literatura no Brasil, e em duas ocasiões ganhou o prêmio da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ). Formada em Jornalismo e com passagens por veículos como O Globo, agências de notícias e assessorias de comunicação, tem sempre referida, ainda, uma informação familiar: é prima do cantor Raul Seixas, o “Maluco Beleza”.

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