Futebol em crise

Uma das grandes paixões nacionais, se não a maior, ainda é o futebol. Sua prática, antes atividade de homens, hoje alcança o interesse e o envolvimento das mulheres, seja como torcedoras, seja como atletas amadoras ou profissionais. Ganhar uma bola de futebol por muito tempo era o sonho maior da garotada. Em alguns momentos de trégua, surgia uma bola de basquete. O grande momento do Corinthians, por exemplo, na década de noventa, fez cestas e bolas aparecerem em profusão em nossa região. Quando Guga arrasava no tênis, muitos se ligaram nesse esporte, hoje com bem menos adeptos e fãs.

Comecei a me interessar por futebol acompanhando o campeonato gaúcho, praticamente o único certame de que participavam os times do Rio Grande do Sul. A competição reunia em torno de doze clubes que, em turno e returno, ao longo de seis a oito meses, disputavam o título. Os jogos aconteciam somente aos domingos e muitas vezes em gramados ruins, levados a miseráveis em tardes chuvosas de invernos congelantes. Esse sim era campeonato raiz. O dito Gauchão de hoje é um estorvo para Grêmio e Internacional (apesar de ser o único título que conseguem conquistar ultimamente), obrigando os clubes do interior a tentar sobreviver disputando uma dúzia de partidas em pouco mais de um mês, inviabilizando por completo projetos mais arrojados.

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Muitos clubes do interior contavam apenas com jogadores regionais. Os salários eram modestos e pagos com a contribuição de associados, de alguns mecenas, ou recursos provenientes de minguadas arrecadações dos jogos. Não existia a realidade das fortunas injetadas hoje em dia por milionários nem sempre com perfil à vista. Os atletas raramente trocavam de clube, não precisavam beijar teatralmente o escudo na camiseta, jurando amor enquanto durasse.

Em panorama mais amplo, veem-se hoje várias competições sobrepostas, intercaladas entre si, demandando estruturas que poucos clubes conseguem sustentar. Caem na mesma época a Copa do Brasil, o Campeonato Brasileiro, a Libertadores, a Sul-Americana, as Eliminatórias da Copa do Mundo, as impostas e arrecadatórias datas Fifa, só para ficar nas principais. Tudo isso sob os mais adensados interesses econômicos de pessoas e grupos de toda natureza.

Para arrecadar mais, amplia-se despudoramente o número de competidores, pouco importando o nível técnico e a relevância da competição. A Libertadores começou a ser disputada em 1960, contando com sete participantes, grandes clubes da América do Sul. A edição de 2025 conta com quarenta e sete. A Copa do Mundo por longo tempo era disputada por dezesseis países, os mais bem classificados em Eliminatórias acirradas. Hoje, classificar-se entre os oito dos dez participantes da América do Sul dá direito a uma das absurdas quarenta e oito vagas da Copa de 2026.

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No Brasil, percebe-se que ser clube grande parece destinar-se a poucos. Neste momento, a dupla Grenal, por exemplo, está se apequenando e afastando das grandes grifes como Palmeiras e Flamengo, amparados por fortunas sem limites. Estamos quase tomando a dimensão da Espanha, onde Real Madrid e Barcelona reinam ad aeternum. E quando clubes com rica história se tornam apenas coadjuvantes, o ânimo dos torcedores arrefece e o afastamento se torna consequência sem volta.

Escrevo antes do início da terceira rodada do Gauchão. Acredito que hoje, após apenas quatro rodadas, alguns clubes já estejam pensando em fechar as portas do ano.

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