Ela, ele, e um abismo

– Tem mulher que deixa o cara louco.
– Hã?
– Depois o sujeito perde a cabeça, faz uma loucura, e ninguém leva em consideração o lado dele.
– Você acha mesmo que há considerações a fazer quando um homem mata uma mulher?
– Olha… A gente sabe que matar não é certo. Só estou dizendo que às vezes a mulher provoca. Mente, engana o cara, faz ele de bobo e depois se faz de vítima.
– Vocês também mentem e enganam. A mentira é universal.
E nem por isso saímos matando os homens.
– Como não? Tem mulher matando homem sim.

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– Nada a ver. Seria um masculinicídio. E isso nem existe como categoria jurídica. Sabe por quê? Porque os homens não são a parte vulnerável. Não como regra. Eventualmente sim, mas são exceções.
– Mas tem mulher matando homens…
– Por favor, é uma gota num oceano. Olha o Rio Grande do Sul. Janeiro nem terminou e já são mais de dez feminicídios. Mortas por ex-maridos, ex-namorados. É uma selvageria.
– As mulheres não são santas.
– E por isso devem ser mortas?
– Não. Eu concordo que matar é errado. Só disse que nem sempre as mulheres são tão inocentes.
– Nem tão culpadas que mereçam a morte. Ou outras violências praticadas apenas porque somos mulheres.
– Não é só porque são mulheres.
– Como não? As mulheres sofrem violência porque são mulheres. Porque ainda vivemos em uma sociedade patriarcal. Onde impera a ideia de que o homem manda.
– Deve haver alguma razão para nós homens ainda mandarmos no mundo.
– Você está dizendo que mandam porque são melhores?
– Não sei. Tu que está dizendo.
– Entendi. Você diz que acha errado os homens matarem suas ex-mulheres. Mas também acha que elas têm uma parcela de culpa, pois passam dos limites.
– É por aí.
– Que tristeza ouvir isso. Acho que vou embora.
– Tem muita mulher que concorda comigo.
– É possível. Uma civilização inteira construída sobre as bases do patriarcado não é fácil de mudar. Mas vai acontecer.
– Isso é coisa de feminista.
– Claro.
– Mulheres feias e mal-amadas…
– Eu realmente estou perdendo o meu tempo.
– Eu não estava falando de ti, calma… Que foi agora? Tu te acha mais importante que eu? Tu acha que eu sou um ignorante? Ei, ei… Que mulher maluca. Foi embora.

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