Santa Cruz está entre as 20 cidades com mais casos de HIV

“A situação de Santa Cruz é preocupante, assim como a situação do Estado do Rio Grande do Sul.” Foi com essa afirmação que a coordenadora do Centro de Atendimento à Sorologia (Cemas) de Santa Cruz, Micila Chielle, iniciou sua participação na Rádio Gazeta FM 107,9 para falar sobre os casos de HIV.
Em entrevista ao programa Estúdio Interativo, afirmou que o Ministério da Saúde classificou Santa Cruz no 19º lugar entre os municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes com maior número de casos. Em nível estadual, é o quinto, atrás de São Leopoldo (12º no ranking nacional), Alvorada (5º),  Porto Alegre (em 2º, sendo a capital com maior índice) e Canoas, em 1º.

O Cemas atende diretamente nove municípios da região e presta apoio técnico a 25. Por ano, recebe em média 120 novos casos de HIV. Mensalmente, a quantidade mínima chega a sete, enquanto a máxima é 19. Cerca de 2,3 mil pessoas diagnosticadas com HIV são acompanhadas pelo centro atualmente. Destas, em torno de mil são de Santa Cruz.

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O município, conforme Micila, registrou 19 mortes por Aids (decorrente do HIV) em 2023. “Ainda não fechamos os dados de 2024, mas já temos certeza de 15 mortes”, apontou. No mesmo ano, o Rio Grande do Sul apresentou 962.

Os casos de óbito, segundo a coordenadora, estão atrelados geralmente ao diagnóstico tardio. “Pessoas que não sabem que têm, que nunca fizeram o teste rápido e não se medicaram. Por isso a importância do diagnóstico precoce, porque aí, consequentemente, estará te protegendo, protegendo teu sistema imunológico das doenças oportunistas, que é isso que acaba levando a pessoa ao óbito”, disse aos jornalistas Carine Weber e Lucas Malheiros. 

Em 2023, o Brasil apresentou 46.495 casos de infecção, aumento de 4,5% em relação ao ano anterior. Atualmente, de acordo com Micila, a doença é considerada uma epidemia. “Ela é muito presente e ainda muito grave”, alertou.

A maioria das pessoas infectadas em 2023 (70,7%) era do sexo masculino. Os dados também apontam que 63,2% se declararam pretas e pardas e 53,6% eram homens que fazem sexo com homens.
Já a faixa etária que concentrou o maior número naquele ano foi dos 20 aos 29 anos de idade. Na sequência, estão aqueles entre 30 e 34 anos.

Embora os dados indiquem uma tendência para o perfil mais suscetível, a coordenadora do Cemas enfatiza que não há um público específico. “O HIV não tem cara, não tem classe social, orientação de gênero ou faixa etária. A realidade que nós vemos no nosso local de trabalho é que há muitas pessoas heterossexuais se contaminando”, destacou.

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Ainda falta o hábito de fazer testes rápidos

Uma vez que os sintomas do HIV podem levar até uma década para se manifestarem, muitas pessoas portadoras do vírus acabam descobrindo ao fazer algum exame de rotina.

“Vemos isso acontecer todos os dias. Descobrem por acaso. Para um caso conhecido de HIV, temos quatro pessoas que não sabem ou sequer suspeitam que têm. As pessoas não têm ainda o hábito de fazer testes rápidos”, relatou a coordenadora do Cemas.

Por isso, Micila enfatiza a necessidade de a população sexualmente ativa fazer o teste rápido no mínimo uma vez por ano. Ele pode ser feito gratuitamente em qualquer local de atendimento do sistema público de saúde – Unidade Básica (UBS), Estratégia de Saúde da Família (ESF) e Centro de Atenção Psicossocial (Caps). Também está disponível na Unimed e no Serviço Integrado de Saúde (SIS) da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc).

“É como um exame de sangue normal. É uma picadinha no dedo. A pessoa não precisa marcar, é só ir até o serviço de saúde e solicitar. Em 20 minutos fica pronto”, afirmou. Conforme Micila, o aumento da capacidade de diagnósticos no Brasil tornou-se um importante fator de prevenção, com maior quantidade de locais de coleta e de testagem. “E aí, em função disso, aparecem mais casos.”

Entretanto, na sua avaliação, o preconceito em torno da doença atrapalha o combate ao vírus. Para a profissional, por mais que a sociedade tenha avançado em muitos aspectos, no que se refere ao sexo, ela ainda está bem ultrapassada.

“Temos um tabu e um preconceito sério em relação ao HIV, simplesmente porque as pessoas se infectam por meio do sexo. E sexo, a grande maioria das pessoas faz. Mas nós fingimos que não, que é só o outro. Temos que evoluir muito ainda.”

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Para saber

  • O boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, publicado em dezembro do ano passado, afirma que, em 2023, aproximadamente 39,9 milhões de pessoas viviam com HIV em todo o mundo. Destas, cerca de 1,4 milhão de crianças com menos de 15 anos de idade. 
  • Somente nesse ano, uma média de 1,3 milhão de novos casos foi identificada. A Unaids estima que 630 mil morreram de doenças relacionadas à Aids.
  • Desde 1980, o Brasil contabilizou 1.165.599 casos de Aids. 
  • Já foram registrados 392.981 óbitos no País. 70,1% eram homens (275.447) e 29,9%, mulheres (117.395). Do total de mortos, 38.636 foram no Rio Grande do Sul.
  • Somente em 2023, 10.338 pessoas faleceram em decorrência da Aids, sendo que 63% das mortes se deram entre pessoas negras e 34,9% entre brancas.

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