Cessar-fogo em Gaza começa após Hamas atrasar entrega de lista de reféns a Israel

Previsto para começar na madrugada deste domingo, 19, na Faixa de Gaza, o cessar-fogo firmado entre o governo de Israel e o grupo terrorista Hamas começou quase três horas depois do previsto. Originalmente a trégua começaria às 3h30 (horário de Brasília, 8h30 no horário local), mas acabou começando às 6h15 após o governo do premiê Binyamin Netanyahu ter recebido com atraso a lista de reféns a serem libertados hoje pelo Hamas.

O Hamas justificou que o atraso se deveu a “motivos técnicos”, garantiu permanecer comprometido com o acordo e encaminhou a lista horas depois. A libertação está prevista para as 11 horas. O conflito se arrasta há 15 meses, desde 7 de outubro de 2023, quando um ataque do Hamas matou cerca de 1,2 mil pessoas e rendeu 251 reféns. Desde o início da ofensiva israelense contra os terroristas, mais de 46 mil palestinos foram mortos, segundo dados do Hamas, que não podem ser verificados.

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O governo de Netanyahu aprovou o acordo na madrugada do sábado, 18, horário local, após reunião que durou horas, ultrapassando o início do Sabbat (sábado judaico), em que o governo geralmente interrompe todas as atividades, exceto em casos de emergência.

Mediado por Estados Unidos, Catar e Egito, o cessar-fogo é a segunda trégua no conflito e teve a aprovação de 24 ministros israelenses e oito votos contrários. Pelo acordo, haverá três fases, e a troca de reféns sequestrados pelo Hamas por prisioneiros palestinos estava prevista para começar ainda nesta manhã. Veja a seguir o que foi estabelecido na proposta de cessar-fogo se tudo der certo.

Primeira fase

A primeira etapa do cessar-fogo tem previsão de 42 dias. Durante esse período, o Hamas se comprometeu a liberar 33 reféns israelenses. Entre eles estariam pelo menos cinco soldados, além de mulheres, crianças, idosos e doentes.

O gabinete de Netanyahu deve anunciar os nomes dos sequestrados libertados em cada dia do cessar-fogo. O Fórum de famílias de reféns de Israel anunciou a identidade dos 33 reféns que devem ser libertados na primeira fase. Embora não tenha confirmação do estado de saúde dos reféns, o governo israelense acredita que a maioria dos sequestrados eseja viva.

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Informações iniciais dão conta de que Israel se comprometeu a libertar 30 prisioneiros para cada refém civil e 50 para cada refém militar. A lista de prisioneiros inclui terroristas condenados que estão cumprindo prisão perpétua. Em comunicado, o Ministério da Justiça de Israel afirmou que o previsto é liberar cerca de 737 prisioneiros.

No entanto, segundo números divulgados pelo Egito, a liberação de prisioneiros palestinos deve ser de 1,8 mil pessoas, que podem incluir prisioneiros que não estão sob o sistema de justiça israelense, como palestinos detidos pelas Forças de Defesa de Israel.

Ao final da primeira fase, a expectativa é de que todos os reféns civis – vivos ou mortos – terão sido libertados. Todas as mulheres e menores de 19 anos detidos por Israel serão libertados nesta fase, segundo o acordo.

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O acordo também prevê que todos os prisioneiros palestinos condenados por ataques letais sejam exilados em Gaza ou no exterior, sendo proibidos de retornar a Israel ou à Cisjordânia. O documento indica que alguns terão que se exilar por três anos, enquanto outros de forma permanente.

Durante esse período também é esperado ainda que as forças israelenses se afastem de áreas mais densamente povoadas da Faixa de Gaza, permitindo o retorno de civis deslocados e aumento da ajuda humanitária.

A previsão é que aproximadamente 600 caminhões por dia entrem no território, dando alívio para a crise humanitária que devasta a região. Segundo informações da mídia local, centenas de caminhões de ajuda carregando materiais de socorro estão estacionados na passagem de fronteira de Rafah. Segundo o primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdelrahmane Al-Thani, os detalhes das fases seguintes do acordo serão divulgados após a conclusão da primeira etapa.

Segunda fase

Os detalhes da segunda fase serão negociados ao longo da primeira. As previsões apontam que, a partir do 16º dia de cessar-fogo, as partes comecem as negociações para uma declaração de “cessação permanente das hostilidades”.

Nessa etapa, o Hamas deve liberar o restante dos reféns em troca de mais prisioneiros palestinos. Os números ainda não estão definidos. Das 251 pessoas sequestradas pelo Hamas, 94 ainda estão como reféns em Gaza, das quais 34 morreram, de acordo com o exército de Israel.

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Essa etapa prevê ainda a retirada das forças israelenses da Faixa de Gaza. Durante meses, o Hamas exigiu que Israel se comprometesse a encerrar a guerra, mas o país resiste.

Do outro lado, a preocupação do Hamas é que Israel volte a atacar o enclave palestino depois da entrega dos reféns, já que o acordo não inclui garantias por escrito de que o cessar-fogo continuará até o fim, sinalizando que as forças israelenses poderiam retomar sua ofensiva militar depois da primeira fase.

Terceira fase

Na última etapa do acordo, o Hamas entregaria os corpos dos reféns israelenses mortos na Faixa de Gaza.

Nessa fase, está prevista a implementação de um plano, supervisionado pela comunidade internacional, para reconstruir a Faixa de Gaza dentro de três a cinco anos. No entanto, de acordo com estimativas da ONU, a reconstrução total pode levar mais de 350 anos se o bloqueio permanecer.

Os bombardeios israelenses e as operações terrestres transformaram bairros inteiros de várias cidades em terrenos baldios cobertos de entulho, com cascas enegrecidas de edifícios e montes de detritos se estendendo em todas as direções.

As principais estradas foram danificadas. A infraestrutura crítica de água e eletricidade está em ruínas. A maioria dos hospitais do enclave não funciona mais. A ONU ainda estima que a guerra tenha espalhado em Gaza mais de 50 milhões de toneladas de entulho -aproximadamente 12 vezes o tamanho da Grande Pirâmide de Giza.

Com mais de 100 caminhões trabalhando em tempo integral, levaria mais de 15 anos para remover os escombros, e há pouco espaço aberto no estreito território costeiro que abriga cerca de 2,3 milhões de palestinos.

Nessa fase, seriam reabertas passagens na fronteira para entrada e saída do enclave palestino. O acordo também não indica quem governará Gaza após a guerra, ou se Israel e Egito suspenderão o bloqueio que limita o movimento de pessoas e bens. Esse boicote foi imposto quando o Hamas tomou o poder em 2007.

*Com Associated Press

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