Sem seringas, álcool e luvas, residentes do Hospital Veterinário da UFRPE pedem a tutores para comprar itens básicos para atender animais doentes


Veterinários denunciam falta de remédios e insumos indispensáveis para realizar os atendimentos. ‘A gente não tem nem pia para lavar as mãos’, diz estudante. Imagem de arquivo mostra campus Recife da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), em Dois Irmãos, na Zona Norte
Pedro Alves/g1
Residentes do Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) denunciaram que estão sem conseguir atender os animais doentes por falta de medicamentos, materiais e equipamentos de raios-X. Ao g1, estudantes disseram que, muitas vezes, pedem aos tutores para comprar itens básicos como seringas, álcool 70%, lâmina de bisturi, fios e luvas cirúrgicas.
“A gente chega ao ponto de ter que externar para o tutor que, caso ele não traga esses insumos, a gente não tem como atender. Se for cirurgia, vai ser cancelada. Se for exame, vai ter que ser remarcado. Porque a gente só consegue trabalhar assim”, disse ao g1 um residente que pediu para não ser identificado.
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Unidade de referência localizada no bairro de Dois Irmãos, na Zona Norte do Recife, o hospital público conta com 32 residentes em setores como clínica, cirurgia e diagnóstico. O g1 entrou em contato com a UFRPE, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
Além dos insumos básicos, os veterinários disseram que também costumam pedir para os tutores comprarem medicamentos que estão em falta na farmácia da unidade. O problema, segundo os estudantes de pós-graduação, perdura há mais de seis meses.
“A gente pede [medicamentos] como doação para o hospital, com os fornecedores que fazem essa venda e entregam, não ao tutor, mas à gente. […] O tutor faz o pedido ao fornecedor, que entrega à gente porque o tutor não tem acesso a medicações controladas”, afirmou o residente.
Alegando condições precárias de trabalho, os veterinários deflagraram greve e decidiram suspender novos atendimentos a partir da segunda-feira (13).
Sem raios-X
Residentes denunciam atraso nas obras do centro de diagnóstico por imagem do Hospital Veterinário da UFRPE, que passa por reforma há quase um ano
Reprodução/WhatsApp
Outro problema relatado pelos veterinários é o atraso na reforma do centro de diagnóstico por imagem da instituição. De acordo com outra residente, que também pediu para não ser identificada, o local está interditado há quase um ano, mas as obras não avançam, o que impede a equipe de utilizar alguns equipamentos, como o único aparelho de raios-X que o hospital tem hoje.
Segundo a estudante, a unidade tinha um segundo aparelho para fazer esse tipo de exame, mas o equipamento explodiu em maio de 2023.
“A sorte foi que todo mundo tinha saído para almoçar e, quando voltamos, estava aquele fumaceiro e explodiu mesmo. Explodiram três fusíveis. Lá sempre tem variações de energia. Provavelmente, houve uma queda de energia, e, quando voltou, a tensão foi muito alta a aí explodiu”, declarou a residente.
A veterinária contou, ainda, que a reforma no centro de imagem tem como objetivo readequar o espaço para a instalação de um tomógrafo que o hospital recebeu como doação no início de 2024.
“Essa obra parou tudo, e a gente não consegue mais fazer o que fazia antes lá, que era ultrassom e raios-X. O tomógrafo, a gente sabe que demanda mais tempo para ele funcionar. A gente não está pedindo o tomógrafo. A gente está pedindo condições, porque hoje o setor de diagnóstico por imagem está numa sala improvisada. A gente não tem nem pia para lavar as mãos, não tem como acomodar todo mundo”, disse a estudante.
Outra residente, que também não quis ser identificada, relatou que a maioria dos cuidadores dos pets atendidos no hospital vive em situação de vulnerabilidade social e não tem condições de pagar por um serviço em unidades particulares.
“O tutor fica, às vezes, triste, indignado. E com razão, porque eles estavam querendo um serviço gratuito já porque não tinham condições, e precisavam correr atrás dessa questão de medicamentos que eles tinham que comprar por fora, além de materiais cirúrgicos”, contou.
Ainda segundo essa residente, os estudantes se reuniram com a direção do hospital para resolver o problema, e a gestão da unidade chegou a prometer que disponibilizaria R$ 8 mil para fazer uma compra emergencial dos insumos, mas as aquisições nunca foram feitas. “Não houve uma mobilização firme sobre essa demanda de urgência”, comentou.
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