Está sem ideias para o nome do seu barco? Confira alguns exemplos listados por NÁUTICA

Nome é como documento: todo barco precisa ter um — e a escolha é o primeiro prazer de quem compra uma embarcação. Nessas horas, vale tudo — desde que tenha a cara do dono. Trata-se de uma exigência legal, mas, mesmo que não o fosse, é bem provável que, ainda assim, cada barco recebesse um nome de batismo, já que é comum do ser humano dar nomes ao que aprecia muito.

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É também através do nome do barco que transparece a personalidade de quem o possui. O registro costuma dizer mais sobre o dono do que o nome dele próprio. É quase um reflexo do proprietário. Ou será que dá para imaginar que o dono de um barco chamado “Tarado” seja um pacato vovô passeando com seus netinhos?

Minina, o veleiro da navegadora Marina Bidoia. Foto: Instagram @allcatrazes/@marinabidoia / Reprodução

E é aí que entra a nem sempre fácil missão de escolher um bom nome para um barco. Até porque só é permitido um único. Portanto, convém caprichar. No passado, esses nomes eram, invariavelmente, religiosos, como forma de pedir a proteção do santo homenageado durante as difíceis travessias. De certa forma é assim até hoje, mas apenas entre os barcos de serviço.

 

Entre os pescadores, por exemplo, atualmente predominam os temas evangélicos. Alguns, inclusive, usam nomes tão extensos que mais perecem salmos. “Deus é o Senhor e nada me faltará”, estava escrito, por exemplo, no casco de uma traineira baseada em Iguape, no litoral sul de São Paulo. “Venha a mim os aflitos”, anunciava outra, no mesmo porto.

 

Respeito religioso à parte, é necessário ter algum bom senso na hora de batizar um barco. Afinal, é preciso ter em mente que o nome serve, basicamente, para identificar a embarcação, muito mais do que para expor as suas preferências pessoais — as alcóolicas, por sinal, predominam nas lanchas de fim de semana, como “Tequila”, Puro Malte”, “Cuba Livre”, “Bebum” e por aí afora.

Foto: Arquivo Revista Náutica

Quanto mais curto, claro e compreensível o nome for, melhor.

Imagine só ter que soletrar um nome estrangeiro e complicado numa situação de emergência, como os dificílimos, “Shreck” e “Srhew”. Aliás, você sabe como se fala “Srhew”? Ou, pior ainda: ter que fazer isso pelo rádio de bordo.

 

Por isso é que ficou famoso o caso do veleiro “Cala Boca”, cujo dono era invariavelmente acusado de grosseria todas as vezes que tentava conversar com outros navegantes pelo rádio. Assim, a Marinha proíbe — ou, no mínimo, tenta convencer os proprietários a escolherem outra opção — sempre que os nomes possam trazer algum problema embutido, seja ele moral ou prático.

 

Conta-se, inclusive, que o registro do nome de uma lancha foi negado pela Capitania dos Portos do Rio de Janeiro, porque o proprietário cismou de batizá-la de “Capitania dos Copos”. Não conseguiu. Foi considerado desrespeitoso.

Nomes chulos ou palavrões também são proibidos. Mas não há nada contra a malícia, então “É Flórida”, por exemplo, ou trocadilhos como “4 Fun” e palavras de duplo sentido, como “Craca Atoa”, que, por sinal, imperam nas águas brasileiras, fazem a alegria de quem não consegue passar indiferente por um barco, sem ler o seu nome pintado no casco.

 

Nomes repetidos, por sua vez, não são permitidos — ao menos não dentro da mesma região ou sem serem acompanhados por um numeral crescente e em algarismos romanos, como determina a regra.

 

Mas isso não impede que só a Capitania dos Portos de Santos tenha mais de 100 barcos registrados como “Albatroz” e uns 200 “Gaivota”. “Nomes de peixes e de aves marinhas são os favoritos do pessoal”, explicou o encarregado do setor de registro de embarcações da capitania santista. “E como há muito mais barcos do que peixes e aves no mar, os nomes acabam se repetindo mesmo e só o que muda é o numeral depois dele”.

Foto: Arquivo Revista Náutica

De fato. Uma empresa de pesca santista tem 45 barcos e todos com o mesmo nome: o incomum “Keinicho Chinem”, nome do próprio dono da marca. Exibicionismo? Pelo contrário: tem gente que não liga nada para esse negócio de nome e põe qualquer um, só para cumprir as formalidades.

 

Pelas regras, só estão dispensados de exibir um nome no casco os barcos menores que cinco metros de comprimento. Mesmo os jets precisam de um, embora não seja obrigatório pintá-lo.

 

A escolha do nome é feita no registro da embarcação na capitania, e vem acompanhada de um número que, este sim, é obrigatório na popa de todas as embarcações, bem como o porto de origem.

 

Já o nome deve ser pintado nas bochechas dos dois bordos de proa e, segundo a regra, “com letras compatíveis com o tamanho do próprio barco” — o que significa que ele tem que ser, acima de tudo, legível. Mesmo que incompreensível para os outros.

Foto: Arquivo Revista Náutica

E este é o ponto: os nomes, muitas vezes, são tão pessoais que ninguém mais os entende. Só mesmo quem o escolheu. Ou será que você é capaz de compreender o significado de nomes como “Dedão do Batepau”, “Aik Baby Aik Aik Billy”, “Dajalivimapeja” ou “Maluka Juno Tartare”? São todos barcos de passeio e baseados em Santos.

 

Com certeza, existe toda uma história por trás de cada um deles e só isso já serve de pretexto para um alegre começo de conversa. Afinal, o que leva alguém a batizar um barco como “Gengiva”? Só mesmo quem o batizou é capaz de dizer.

 

Como regra geral, porém, predominam nos barcos de passeio os nomes engraçados, curiosos ou capciosos — um reflexo da tal personalidade do dono, como foi dito antes.

 

Emendar palavras, como “Onkotô”; separá-las de outra forma, como “Tonem Ai”; mudar a grafia original, como “Allanbick”. Vale tudo, desde que o nome fique engraçado. E original. Aliás, deve ter sido isso que passou pela cabeça do dono de um certo veleirinho carioca, quando decidiu batizá-lo com um insólito “Sem Nome”. E escrito à mão, fraquinho, quase a lápis.

 

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