Auto da Compadecida 2: a volta de Chicó e João Grilo

Desde o início deste século, poucos reencontros no cinema foram tão animadores quanto o de João Grilo e Chicó. Eles estão de volta para mais aventuras, ou presepadas, em O Auto da Compadecida 2. Em cartaz nos cinemas de Santa Cruz do Sul, arrisca ao apresentar uma história inédita a partir da peça de Ariano Suassuna.

Com uma produção mais robusta e experiente, a obra investe no maior mérito do seu antecessor, os personagens. É Selton Mello, intérprete de Chicó, que melhor expressa a emoção dos espectadores ao ver os dois juntos novamente. Com os olhos lacrimejando e a voz embargada, ele toca a face do seu companheiro, que não vê há mais de 20 anos, e fala: “Meu amigo João Grilo. Não teve um dia nessa vida que eu não lembrasse de você”.

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A resposta de João, vivido por Matheus Nachtergaele, não poderia ser outra: “Todos os dias eu lembrava de você. No que alguém contava uma mentira, eu lembrava!” É nesses momentos que está o grande trunfo da sequência e que acaba despertando um sentimento de familiaridade com o filme original.

E, mesmo após duas décadas, os protagonistas mantêm os traços que os tornaram tão marcantes. Ao ver Nachtergaele em tela, não parece que passou tanto tempo desde a última vez que o vimos interpretar João Grilo. Ele continua a aprontar e criar planos mirabolantes para ganhar uns tostões. Já a performance de Selton mudou devido às reviravoltas na vida de Chicó.

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Embora continue a ser o maior frouxo de Taperoá, ele precisou abandonar sua personalidade mais introspectiva para sobreviver sem a presença do amigo. Assim, tornou-se guia turístico, contando aos visitantes a espantosa e “verdadeiramente verídica” história da Vida, paixão e morte de João Grilo. Sem descartar, é claro, suas narrativas que ele jura terem acontecido.

A volta de Rosinha também rende momentos emocionantes. Virginia Cavendish, que marcou presença no 7º Festival Santa Cruz de Cinema, em 2024, brilha ao demonstrar o quanto a personagem evoluiu desde o último encontro e rouba a cena.

Presepadas

A alegria contagiante proporcionada pelo trio de protagonistas não livra O Auto da Compadecida 2 de falhas. A continuação toma certas decisões criativas que podem (ou não) atrapalhar a diversão. A começar pela história.  Os roteiristas claramente se esforçaram para criar um enredo à altura da obra clássica de Suassuna.

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O roteiro apresenta boas ideias, mas que são esquecidas conforme a trama progride, atrapalhando principalmente o desenvolvimento dos novos personagens. Outro aspecto que chama a atenção é o cenário. No original, o sertão da Paraíba foi muito bem aproveitado para compor a ambientação do original, dando vida à cidade de Taperoá.

Já na sequência, as locações naturais são substituídas por fundos verdes, efeitos digitais e construções com estruturas distorcidas propositalmente. A escolha criativa parece querer aproximar o filme do clima lúdico e teatral da peça. Porém, por ser tão destoante do antecessor, pode desagradar. Nada disso, entretanto, estraga a experiência de ir ao cinema. Ousado, O Auto da Compadecida 2 esforça-se para fazer jus ao legado de Suassuna.

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