Ovelhas morriam no passado de tanto pelo? Entenda resposta para dúvida do cantor Lucas Fresno após vídeo viral


Vídeo com imagem de ovelha com 27kg de lã viralizou no X. Especialistas explicam que ancestrais das ovelhas domesticadas não tinham tanta lã quanto as ovelhas atuais. “Como as ovelhas faziam antes dos humanos tirarem a lã delas? Elas morriam de tanto pelo?”. Um post do músico Lucas Fresno com esta pergunta viralizou na última semana no X e causou uma reação de especialistas respondendo que as ovelhas de hoje têm mais pelo graças à seleção artificial, seleção natural, cruzamento e domesticação. Será que é verdade?
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Antes de embarcar na polêmica, é importante entender que existem diferentes raças de ovelhas – umas lanadas (com lã) e outras com pelo, como explica a zootecnista especialista em estresse térmico da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA)/USP Cristiane Tito.
Com variações genéticas diferentes, algumas são adaptadas a ambientes mais quentes e outras a regiões mais frias.
O biólogo e mestrando em zoologia pela UFMG Pedro Henrique Tunes acrescenta que os ancestrais das ovelhas domésticas, assim como os carneiros selvagens, não tinham tanta lã quanto as ovelhas atuais e a maior parte dos pelos caía no verão. Então, isso não era um problema na natureza.
As espécies de ovelhas que vivem na natureza são constantemente moldadas pela seleção natural, que é um processo muito mais lento e depende de vários fatores ambientais. Mas quando o animal passou a ficar no cativeiro, com a domesticação, a seleção artificial acabou sendo predominante.
“Ao longo de milhares de anos, fomos selecionando ovelhas que possuíam cada vez mais lã, que deram origem às raças produtoras que conhecemos hoje. Essas adaptações ocorreram desde o período Neolítico, através principalmente da seleção artificial, na qual as populações locais permitiam a reprodução apenas entre indivíduos com características desejadas mais acentuadas, como pelos mais longos, chifres mais curtos ou carne mais macia, por exemplo’, diz Pedro.
Das ovelhas domésticas, algumas raças já foram extintas, fato associado ao surgimento de raças que serviam melhor a certos interesses econômicos. “Das 6 espécies selvagens, entretanto, muitas sofrem hoje com a caça e algumas subespécies já desapareceram completamente”, explica Pedro.
Ovelhas são o segundo animal doméstico mais antigo do planeta
As ovelhas são o segundo animal doméstico mais antigo do planeta, depois do cachorro, explica o biólogo. Elas foram domesticadas a partir de uma espécie de carneiro selvagem conhecida como muflão-asiático (Ovis gmelini), há cerca de 11 mil anos na região da Mesopotâmia.
Nas regiões onde era criado, elas passaram a desempenhar um papel crucial na produção de carne e leite para as populações nativas e rapidamente chegaram na Europa, África e no resto da Ásia. Há cerca de 6 mil anos, passaram a ser amplamente utilizadas para a produção de lã.
Todas as ovelhas domésticas do mundo atualmente são da mesma espécie (ovis aries), que se dividem em mais de 200 raças. Além delas, outras seis espécies selvagens vivem no mundo. No Brasil, há no mínimo 15 raças de ovelhas e apenas duas existem somente aqui. Na região Sul, elas têm mais lã e, nas regiões mais quentes, são de pelo.
O genoma das ovelhas foi totalmente sequenciado em 2014, o que possibilitou avanços significativos na produção de carne, leite e lã.
Produção de lã movimenta mais de 35 bilhões de dólares anualmente, em uma taxa crescente
Ovelha Serra da Estrela é produtora do leite que é matéria-prima do queijo mais famoso de Portugal
Reprodução/EPTV
O biólogo Pedro Henrique explica ainda que as ovelhas produzem em média de 1 a 15 quilos de lã por ano, com algumas exceções em que o animal pode manter até mais de 40 kg de lã em seu corpo se não for tosquiado.
“Dessa forma, retirar a lã anualmente é extremamente benéfico para o animal. Sua produção para carne e leite ainda é de extrema importância em diversas regiões do planeta e, atualmente, sua produção de lã movimenta mais de 35 bilhões de dólares anualmente, em uma taxa crescente”, explica Pedro.
A zootecnista Cristiane acrescenta que a lã protege a ovelha tanto do calor quanto do frio. Costuma-se retirar a lã do animal uma vez por ano e o ideal é que esta remoção se faça no final do inverno e começo da primavera, segundo a especialista. Isso para que a ovelha não morra de frio no período de temperaturas mais baixas, mas para que ela também já tenha alguma proteção de lã contra o sol novamente no verão.
“A raça Santa Inês é a mais comum hoje no Brasil. Ela tem genes até de raças lanadas no meio”, explica a professora Cristiane.
Entendendo melhor a lã
A lã pode ter várias cores, que depende da cor da pelagem do animal de que foi retirada. Ela é um termo genérico para pelos longos que crescem no corpo do animal e geralmente que podem ser trançados.
Várias outras espécies de animais podem produzir lã, incluindo alguns animais domésticos (lhamas, alpacas, iaques-domésticos, algumas raças de coelho e uma raça extinta de cachorro) e espécies selvagens (boi-almiscarado, bisão, vicunha, guanaco, iaque-selvagem e outros), descreve Pedro.
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Foto 1: Divulgação/Mãostiqueira | Foto 2: Fábio França/g1
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