É curioso como o trabalho com carteira assinada, a famosa CLT, virou sinônimo de filme de terror para alguns jovens. Enquanto os mais velhos falam com orgulho do registro em carteira, a garotada torce o nariz só de ouvir falar em ônibus lotado, chefe pegando no pé e salário que mal cobre o lanche do fim de semana. Não é raro ver a molecada comentando que “não quer virar CLT de jeito nenhum”, como se fosse uma sentença para a vida toda. Essa ideia de que assinar a carteira é sinônimo de sufoco não surgiu do nada: vem de um histórico brasileiro de empregos que exigem muito e pagam pouco, um convite para acordar no escuro e voltar para casa só para dormir. Nessa equação, o medo de trabalhar formalmente cresce e ganha força nas redes, onde vídeos engraçados, mas cheios de crítica, fazem a CLT parecer um vilão.
Pontos Principais:
- A CLT é vista como sinônimo de rotina dura e salário baixo por muitos jovens.
- Redes sociais vendem o sonho de ganhar dinheiro fácil no digital.
- Pesquisadores alertam que a maioria não consegue ter sucesso online.
- CLT ainda garante direitos e segurança para quem mais precisa.
Quem nunca viu algum vídeo de influencer dizendo que o segredo da vida está em “rasgar a carteira de trabalho” e faturar milhares de reais no digital? Pois é, parece até fácil, mas a realidade é bem mais complicada. Tem gente que acredita mesmo que trocar a estabilidade do emprego formal por um perfil bombado nas redes sociais é a saída mágica para a liberdade. O discurso é sempre o mesmo: “não quero mais patrão”, “vou fazer dinheiro de qualquer lugar do mundo” e “é só ter coragem”. Só que quem estuda o tema sabe que a maioria desses sonhos de “autonomia” terminam em frustração e boleto não pago. A vida fora da CLT pode até ter mais liberdade, mas também traz muito mais risco e incerteza, especialmente para quem vem de família que já rala bastante para sobreviver.

Mesmo assim, tem quem abrace essa ideia com força e decida apostar todas as fichas no marketing digital. Acha que a internet vai resolver tudo, que um celular com câmera e um curso de mentoria são suficientes para encher o bolso e ainda ter tempo para postar dancinha no TikTok. Só que a realidade é que, para a maioria, o caminho até o sucesso digital é cheio de tropeços. Pesquisadores já mostraram que, apesar de todo o entusiasmo e os cursos caríssimos, só uma minoria realmente consegue transformar as redes sociais em renda estável. O restante acaba ficando no meio do caminho, sem os direitos e garantias que a CLT oferece, e ainda com aquela dúvida na cabeça: será que largar tudo foi mesmo uma boa ideia?
Por outro lado, não dá para ignorar que a vida de quem depende do transporte público, do relógio de ponto e do salário que mal cobre as contas não é nada fácil. E tem muita gente que, mesmo preferindo a segurança da carteira assinada, acaba desistindo por causa do estresse e da sensação de estar sempre devendo tempo e dinheiro. É por isso que cresce o interesse em buscar alternativas, mesmo que elas nem sempre tragam o retorno que prometem. A ilusão de trabalhar de qualquer lugar, com liberdade e autonomia, conquista corações e mentes, mas ainda esbarra na realidade dura de contas que não param de chegar e de um mercado que exige muito e entrega pouco para quem está começando.
Há quem veja a saída para todo esse dilema na ideia de empreender, de criar o próprio negócio e tentar ganhar mais autonomia. É bonito no discurso, mas quem já abriu um negócio sabe que a rotina de empreendedor não é só glamour. Tem que cuidar de tudo: do financeiro, do marketing, da entrega e do atendimento, tudo ao mesmo tempo e sem folga. E não tem férias, décimo terceiro ou vale-transporte para ajudar quando as vendas caem. Por isso, muitos voltam a sonhar com a carteira assinada, que mesmo com todos os perrengues, ainda garante alguns direitos e dá um mínimo de segurança para o trabalhador.
O que parece faltar, no meio de toda essa conversa, é um debate honesto sobre como melhorar a vida de quem trabalha, seja como CLT ou como autônomo. A verdade é que a CLT surgiu como um escudo para quem não tinha nada, um jeito de garantir que o patrão não fizesse o que bem entendesse. Hoje, o mundo mudou, mas a ideia de ter direitos básicos, salário justo e condições decentes continua tão importante quanto antes. Se tem quem prefira abrir o próprio negócio e não quer saber de carteira, ótimo. Mas isso não pode significar que quem quer a segurança de um emprego fixo deva ser visto como preguiçoso ou sem ambição.
Esse papo de que todo mundo pode ser “rico no digital” funciona bem para vender curso, mas esconde a dificuldade real de ganhar a vida fora do registro em carteira. Não é que ninguém queira liberdade – quem não quer? – mas a verdade é que, sem estabilidade, a liberdade pode virar sinônimo de desespero. E no fim das contas, o que todo trabalhador quer, seja com ou sem carteira, é respeito, salário que pague as contas e a chance de construir um futuro sem precisar escolher entre trabalhar muito e viver pouco.
Fonte: G1 e Correiobraziliense.
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