IBGE revela que 2,4 milhões vivem com autismo no Brasil; maioria são meninos

O Censo Demográfico 2022, divulgado pelo IBGE, trouxe pela primeira vez dados detalhados sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) no país. De acordo com o levantamento, 2,4 milhões de pessoas declararam ter diagnóstico de autismo, o que representa cerca de 1,2% da população brasileira. O dado consolida uma percepção crescente entre especialistas: a de que o número de diagnósticos vem aumentando graças a maior conscientização e melhora nos métodos de avaliação clínica.

Pontos Principais:

  • Brasil tem 2,4 milhões de pessoas diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista.
  • Maior prevalência ocorre entre meninos e crianças de 5 a 9 anos de idade.
  • Sudeste lidera número absoluto de diagnósticos por maior acesso a serviços.
  • Taxa de escolarização de autistas supera a média nacional entre crianças.
  • Especialistas pedem capacitação de professores e estrutura para inclusão.

A concentração de diagnósticos é maior entre crianças de 5 a 9 anos, com 2,6% dessa faixa etária identificada com TEA. O fenômeno pode ser explicado tanto pela maior vigilância de escolas e famílias quanto por avanços nos protocolos de triagem e identificação precoce. O dado reforça a necessidade de estruturas mais preparadas para lidar com a diversidade cognitiva desde os primeiros anos escolares.

O Censo 2022 apontou 2,4 milhões de brasileiros com autismo, com maior prevalência entre meninos e crianças de 5 a 9 anos, evidenciando o avanço no diagnóstico precoce.
O Censo 2022 apontou 2,4 milhões de brasileiros com autismo, com maior prevalência entre meninos e crianças de 5 a 9 anos, evidenciando o avanço no diagnóstico precoce.

Entre os sexos, a prevalência é superior entre os homens: 1,5% contra 0,9% entre as mulheres. Essa diferença é observada internacionalmente e pode ter relação tanto com fatores genéticos quanto com viéses nos critérios de diagnóstico. A distribuição regional dos casos segue o padrão populacional, com o Sudeste liderando em números absolutos, seguido pelo Nordeste, Sul, Norte e Centro-Oeste.

Diagnóstico e regionalização

O levantamento do IBGE mostra que o diagnóstico de TEA está mais concentrado em áreas com maior densidade populacional e acesso a serviços médicos especializados. O estado de São Paulo, por exemplo, reúne o maior número de casos em números absolutos, o que se alinha ao seu maior contingente populacional e maior oferta de recursos em saúde.

A especialista em neuropsicologia Tatiana Serra destacou que a distribuição dos diagnósticos reflete o grau de acesso à informação e serviços de saúde. Regiões com menor infraestrutura, como partes do Nordeste e do Centro-Oeste, tendem a ter índices mais baixos não por menor prevalência, mas pela dificuldade de acesso ao diagnóstico.

Ainda segundo o IBGE, em termos proporcionais, as diferenças regionais não são tão marcantes. Isso pode indicar que, apesar das disparidades em infraestrutura, há uma tendência de distribuição homogênea do transtorno na população brasileira. A menor taxa proporcional entre indígenas (0,9%) pode apontar subnotificação, considerando o acesso limitado a serviços de saúde em algumas comunidades.

Educação e inclusão

A pesquisa revelou também dados importantes sobre a escolarização de pessoas com TEA. A taxa de escolarização entre autistas foi de 36,9%, superior à média nacional de 24,3%. O dado mostra avanços na inclusão escolar, especialmente entre crianças e adolescentes. Cerca de 70% dos estudantes com autismo estão matriculados no ensino fundamental, e a maior parte deles tem entre 6 e 14 anos.

Por outro lado, a presença de autistas no ensino superior ainda é baixa: apenas 0,8% têm acesso a esse nível de ensino. Entre as pessoas com 25 anos ou mais, 46,1% têm apenas o ensino fundamental incompleto ou nenhum grau de instrução, em contraste com os 35,2% da população geral. A discrepância reforça a importância de políticas públicas voltadas à permanência e ao sucesso acadêmico dessas pessoas.

A especialista Tatiana Serra também aponta a necessidade de capacitação dos profissionais da educação. Segundo ela, é urgente que cursos superiores incluam disciplinas voltadas ao atendimento de pessoas com autismo, permitindo que professores estejam melhor preparados para lidar com demandas específicas dentro da sala de aula.

Implicações para políticas públicas

A consolidação dos dados sobre TEA pelo IBGE fornece uma base sólida para a formulação de políticas públicas mais eficazes. A identificação precisa da população autista permite que estados e municípios planejem investimentos em saúde, educação e assistência social com foco em inclusão e acessibilidade.

A presença mais significativa do diagnóstico entre crianças também demanda atenção especial às políticas de primeira infância e educação infantil. O fortalecimento de redes de apoio e atendimento precoce pode influenciar positivamente no desenvolvimento dessas crianças e em sua inclusão futura no mercado de trabalho e na vida adulta independente.

Outro aspecto a ser considerado é a regionalização das políticas públicas. Estados e municípios devem ser orientados por dados concretos para estruturar centros de diagnóstico, capacitar equipes multiprofissionais e garantir transporte escolar adaptado. O uso de indicadores como os apresentados no Censo 2022 pode nortear ações de forma mais eficaz e justa.

Capacitação e informação

A fala da especialista Tatiana Serra também indica um ponto crítico no enfrentamento do TEA no Brasil: a formação profissional. Muitos profissionais de saúde e educação ainda carecem de formação específica sobre autismo, o que compromete a qualidade do atendimento e o sucesso das políticas de inclusão.

Segundo ela, é necessário incluir novas disciplinas nos cursos de graduação, com foco em neurodesenvolvimento, transtornos cognitivos e estratégias de ensino-aprendizagem adaptadas. Essa mudança não deve ocorrer apenas na medicina ou psicologia, mas também em pedagogia, licenciaturas e áreas afins.

O papel da mídia e da sociedade na disseminação de informações corretas e baseadas em evidências também se mostra relevante. A construção de uma rede de conscientização contínua pode contribuir para combater estigmas, reduzir preconceitos e incentivar o diagnóstico precoce.

Desafios estruturais

Apesar dos avanços, os dados revelam uma série de desafios estruturais ainda não superados. A baixa escolaridade entre adultos com TEA aponta para lacunas históricas na inclusão educacional, muitas vezes relacionadas a diagnósticos tardios ou inexistentes no passado.

A escassez de profissionais qualificados e a limitação de acesso em regiões afastadas comprometem a efetividade das políticas existentes. A descentralização do atendimento e a criação de núcleos regionais especializados poderiam ser caminhos viáveis para reduzir essas desigualdades.

A coleta e divulgação desses dados pelo IBGE representam um avanço institucional importante, mas a transformação dessas informações em ações concretas ainda depende de decisões políticas, mobilização social e investimentos continuados em saúde e educação.

Panorama geral

A inserção do TEA nos dados oficiais do Censo representa uma mudança de paradigma na forma como o país lida com o tema. O levantamento fornece uma base inédita de conhecimento que pode orientar ações do governo federal, estaduais e municipais.

Os números também ajudam a compreender melhor o impacto da condição na vida das famílias, nas redes de ensino e no sistema de saúde. A maior escolarização entre autistas jovens sugere avanços recentes, mas também exige a continuidade dos esforços para garantir a permanência e o sucesso dos alunos com TEA em todos os níveis de ensino.

Com base nesse panorama, o Brasil pode avançar na construção de uma sociedade mais acessível, informada e estruturada para atender às demandas de uma parcela significativa da população que, até recentemente, permanecia invisível nos dados oficiais.

Fonte: G1, Bbc e CNN.

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