Do espaço, parece uma pintura abstrata. Entretanto, nem mesmo quem tinha essa visão privilegiada lá de cima conseguia dizer do que exatamente era composto esse redemoinho gigante no Mar Báltico, que aparece na região do Golfo de Gdańsk, na Polônia, e chegou a durar quase um mês.
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O registro desse fenômeno aconteceu pela primeira vez no dia 16 de maio de 2018, capturado pelo satélite Sentinel-2A, da Agência Espacial Europeia (ESA).

Para os detalhes do redemoinho ficarem mais perceptíveis, cientistas alteraram digitalmente a imagem com cores falsas. Dessa forma foram destacados os comprimentos de onda da luz proveniente da “substância misteriosa”, além de dar um aspecto avermelhado à terra ao redor do Mar Báltico.
Mesmo com as alterações digitais, ainda não estava claro do que se tratavam essas “manchas”. Com padrões semelhantes aos de florações de algas fotossintéticas, esse efeito intrigante e misterioso se espalhava pela superfície do oceano por conta do vento e das correntes oceânicas.

Entretanto, essas florações no Báltico são claramente visíveis a olho nu na maioria dos registros de satélite. Além disso, elas frequentemente surgem meses antes de começarem a aparecer os redemoinhos. Ou seja: hipótese descartada.
Em contrapartida, outros pesquisadores propuseram que o material, na verdade, fosse um “ranho-do-mar”, que seria uma substância viscosa produzida por alguns plânctons — que pode se aderir a barcos e em costas. Porém, os moradores locais nunca apontaram algum surto dessa substância.
Mas, afinal, do que era esse redemoinho no Mar Báltico?
Depois de algumas teorias, veio a resposta: as manchas presentes nas imagens de satélite eram compostas de pólen de árvores, mais especificamente dos pinheiros. A descoberta foi publicada no periódico Remote Sensing of Environment, em 2023.

Com ajuda de dados coletados pelos satélites Terra e Aqua, da NASA, os pesquisadores revelaram que manchas semelhantes apareceram 14 vezes entre 2000 e 2001. Além disso, os cientistas perceberam que os redemoinhos se formam entre maio e junho, período que corresponde ao ciclo do pólen dos pinheiros.
Sendo assim, a equipe sugeriu que o pólen das árvores estava sendo levado para o mar e parando na superfície do oceano — em 2018 a formação chegou, inclusive, a ficar 22 dias seguidos sobre as águas. Uma análise mais aprofundada na luz refletida do redemoinho confirmou, então, essa hipótese.
Pesquisas anteriores já haviam demonstrado que o pólen das árvores poderia acabar no Mar Báltico, mas nenhuma que apontasse os indícios desse efeito em tão grande escala, segundo o Observatório da Terra.
E agora?
De acordo com a State Forests Poland, os pinheiros são as árvores mais comuns da Polônia, constituindo cerca de 60% das florestas do país — que, por sua vez, cobrem um terço da massa terrestre do país.

Devido ao alto teor de carbono orgânico do pólen, o redemoinho que costuma se formar no Mar Báltico pode ficar mais nocivo e influenciar o ecossistema marinho. Afinal, o fato de microrganismos se alimentarem desse material pode alterar cadeias alimentares e afetar a pesca.
Por isso, os pesquisadores acreditam que estudos de acompanhamentos — como rastrear a agregação do pólen em diferentes lugares — são necessários para avaliar o total impacto que a formação pode desempenhar na pesca e nos ecossistemas marinhos em todo o mundo.
Outro motivo de preocupação, segundo um estudo de 2021 realizado na América do Norte, são as mudanças climáticas causadas pelos humanos, que resultaram em um aumento de 21% nos níveis anuais de pólen entre 1990 e 2018. Além disso, a temporada de pólen durou cerca de 20 dias a mais, em média, no último ano.
Esse aumento e piora da temporada de pólen é resultado do aumento do dióxido de carbono atmosférico que está acontecendo em todo o planeta, permitindo que as plantas produzam mais pólen — e que ocorra cada vez mais redemoinhos como esse do Báltico.
Por Áleff Willian, sob supervisão da jornalista Denise de Almeida
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