A decisão da TV Globo de reprisar “A Viagem” em 12 de maio de 2025 coloca em evidência uma mudança drástica na linha editorial da emissora ao longo dos últimos anos. A novela, que aborda a vida após a morte sob o viés do espiritismo kardecista, retorna ao ar após quase uma década de ausência de tramas com a mesma temática no horário nobre ou no catálogo de inéditas.
Pontos Principais:
- A Viagem retorna ao Vale a Pena Ver de Novo em 12 de maio de 2025.
- Novela de 1994 é inspirada na obra espírita de Chico Xavier.
- Globo não exibe novelas espíritas inéditas desde 2018.
- Pressões políticas e religiosas influenciam diretrizes da emissora.
Produzida originalmente em 1994 e baseada na versão de 1975 da TV Tupi, “A Viagem” foi escrita por Ivani Ribeiro e inspirada nos livros de Chico Xavier, como “Nosso Lar”. A história ganhou destaque por tratar do plano espiritual e da reencarnação em uma narrativa que conquistou alta audiência e forte apelo popular. O protagonista Alexandre, vivido por Guilherme Fontes, se suicida na prisão e retorna como espírito para atormentar aqueles que considera culpados por sua condenação.
O retorno da trama ao “Vale a Pena Ver de Novo” marca também o silêncio da emissora sobre a interrupção das novelas com viés espírita. Títulos como “Alma Gêmea” (2005), “Escrito nas Estrelas” (2010) e “Além do Tempo” (2015) compõem um histórico de obras que dialogavam com o espiritismo, todas bem recebidas pelo público. A última dessa linhagem foi “Espelho da Vida”, exibida em 2018 e escrita por Elizabeth Jhin, que deixou a Globo três anos depois.
Segundo a própria autora, em entrevista ao site Na Telinha em 2023, sua decisão de se afastar da TV foi motivada pela exigência de adequar roteiros a normas que envolviam filtros ideológicos e temáticos. O comentário foi interpretado como uma crítica à política editorial implementada durante a gestão de Amauri Soares, diretor-geral da Globo desde 2020.

Fontes de bastidores relatam que uma cartilha foi distribuída a autores da casa com diretrizes explícitas sobre o que evitar em roteiros. As normas incluiriam a limitação de cenas de intimidade, redução de temas não cristãos e exclusão de pautas consideradas sensíveis, como sexualidade e religiosidade alternativa. O objetivo seria conter a perda de audiência para o público evangélico, que passou a boicotar a emissora em anos recentes.
Essa inflexão conservadora ocorreu paralelamente ao governo de Jair Bolsonaro, crítico contumaz da Globo. O ambiente político pressionou ainda mais a emissora a revisar sua abordagem narrativa para não enfrentar novos desgastes. A ausência de novelas espíritas inéditas nos últimos sete anos é um reflexo direto dessa conjuntura.
Reexibir “A Viagem” em 2025, portanto, não é apenas uma homenagem a um clássico da dramaturgia. É também um sintoma de contradição. Enquanto revive uma trama que abordava o além-túmulo sem reservas, a emissora evita se comprometer com novas produções do gênero. O sucesso ou fracasso da reprise poderá indicar à Globo se há espaço — ou não — para o retorno definitivo de histórias com conteúdo espiritualista em sua grade.
Fonte: Gauchazh e Veja.
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