No último dia 3 de março, um domingo, à noite, boa parcela da população brasileira acompanhou com expectativa a revelação dos ganhadores do Oscar 2025. A curiosidade se devia à participação do filme Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, e a comemoração foi imensa quando ele efetivamente foi anunciado como vencedor da estatueta de Melhor Filme Estrangeiro.
Bem longe do Brasil também havia gente na torcida. É o caso da santa-cruzense Ana Cláudia Gusson, 35 anos, designer gráfica radicada há mais de oito anos em Vancouver, na costa oeste da Colúmbia Britânica, no Canadá, a milhares de quilômetros da terra natal (é filha de Neori e Márcia Gusson). De lá, naquele mesmo domingo, ela conferia a cerimônia e celebrou, emocionada, a vitória da produção nacional.
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Ana não tem dúvidas sobre o merecimento desse prêmio. Ela assistira ao filme em festival de cinema na cidade. E surpreendeu-se ao reparar que a sala estava repleta de pessoas de diferentes nacionalidades, e que a plateia aprovava muito o que via. Depois reviu o longa ao lado do companheiro, o também gaúcho Marcel Junges, porto-alegrense que atua no segmento do audiovisual, a exemplo dela própria. Ana ressalta que não houvera tamanha visibilidade ou interesse em torno do cinema brasileiro desde a exibição de Bacurau, em 2019, no Canadá.
Para os profissionais brasileiros que atuam no exterior, esse sucesso da produção dirigida por Walter Salles e protagonizada por Fernanda Torres e Selton Mello representa uma espécie de estímulo extra, gerando visibilidade que beneficia a todos. Ana, por sinal, também atua como realizadora. Ao final de 2023, um curta de animação, Pivot, que ela dirigira em parceria com duas amigas e colegas, Robyn Campbell e Cindey Chiang, avançava em etapas preliminares como candidato ao Oscar daquele ano, pelo Canadá, mas ficou de fora na reta final.
Ela e Junges seguem atuando em projetos de audiovisual na região de Vancouver, bem como interagindo com profissionais de vários outros países. Em entrevista à Gazeta do Sul, ao longo desta semana, refletiu sobre o que a conquista de Ainda Estou Aqui representa para o cinema nacional.
Entrevista
Como o longa Ainda Estou Aqui repercutiu aí no Canadá?
Ainda Estou Aqui repercutiu de forma muito positiva por aqui. As premiações colocaram o filme em evidência e aumentaram a presença do filme nas salas de cinema. Lembrando que estamos falando de um público que acompanha o circuito de premiações e tem o hábito de ir ao cinema para além dos blockbusters; logo, não dá para se dizer que o filme foi um grande sucesso de bilheteria. Mas, com certeza, chamou a atenção, teve um público grande e um período longo de exibição. Até poucas semanas atrás, o filme estava em exibição em um cinema independente aqui de Vancouver.
Chegaste a assistir ao filme e, se sim, em que circunstâncias?
Sim, assisti duas vezes. E quero ver mais! A primeira vez foi em outubro do ano passado no Festival Internacional de Cinema de Vancouver (VIFF, Vancouver International Film Festival), junto com duas amigas também brasileiras. Me chamou a atenção a grande presença de um público não brasileiro, pois cinco anos atrás fui ao mesmo festival assistir à exibição de Bacurau e o cinema estava lotado de brasileiros. Mas, claro, Ainda Estou Aqui já vinha de uma leva de premiações em outros grandes festivais, então houve muito interesse no filme.
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Lembro de ouvir comentários muito positivos na saída do filme, geralmente sobre as excelentes atuações. Inclusive, Ainda Estou Aqui foi premiado como melhor filme na categoria do público no VIFF. Numa segunda oportunidade, levei meu noivo para assistir. Fomos acompanhados de outros amigos, alguns não brasileiros. Novamente, o público era bastante misto e a resposta foi muito positiva. Mesmo os amigos não brasileiros gostaram muito do filme e compreenderam claramente a mensagem. Alguns até comentaram sobre histórias semelhantes terem acontecido em seus países de origem.
Ainda antes mesmo de Ainda Estou Aqui, como era o conhecimento dos canadenses sobre cinema brasileiro ou latino-americano?
De modo geral, os canadenses acompanham muito pouco o cinema internacional. Mas aqueles que se interessam, conhecem e gostam muito de alguns filmes. Cidade de Deus é sempre um filme muito referenciado, por exemplo.
Que efeitos ou influências imaginas que o Oscar possa vir a ter para a repercussão do cinema brasileiro no mundo?
O Oscar é o último prêmio da temporada de premiações. Então, é como se ele fosse a linha de chegada de uma maratona. Dito isso, é impressionante o fato de que Ainda Estou Aqui chegou até a premiação final em três categorias, duas delas as de maior prestígio (Melhor Filme e Melhor Atriz), e saiu de lá com o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro – isso significa que o filme foi aprovado pelo público e crítica em diversas premiações e teve relevância e impacto suficientes para chegar até o final da corrida. Isso é algo a ser muito comemorado pelo Brasil. É histórico e muito especial – que bonito sermos celebrados através dessa conquista.
Isso joga um holofote no Brasil e no seu potencial cultural – acho que desde Cidade de Deus não vivíamos isso. Eu gostaria de acreditar que isso vá abrir mais portas para a participação de outros filmes em grandes festivais, impulsionar a produção cinematográfica do país e até atrair mais interesse de parceiros internacionais.
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E, na menor das hipóteses, temos mais uma coisa para nos orgulharmos. É sempre muito bom ser visto como o país do Pelé, do Ayrton Senna e agora da Fernanda Torres – ela com certeza foi a maior revelação para os fãs de cinema internacional.
A que trabalhos tens te dedicado ultimamente no universo do audiovisual?
No momento, estou trabalhando em um estúdio de animação. Estou dirigindo uma pequena série de vídeos infantis para a marca Mattel. Também para a Mattel, tenho duas séries já publicadas no ano passado, Isabel & Nicki’ s Super Duper Twin Adventures e The Barbie Band – infelizmente, ambas sem versão em português. Para um futuro próximo, tenho vontade de transformar o livro Nossa Senhora da Boa Viagem, de autoria da minha tia Solange Gusson, e que ilustrei, em um documentário animado.
E de que maneira segues acompanhando, à distância, a rotina em Santa Cruz do Sul e no Rio Grande do Sul, inclusive em termos de cinema?
O contato com a família e amigos é a minha maneira favorita de acompanhar os acontecimentos da região. E, em termos de cinema, via streaming, adoro ver novelas (que, diga-se de passagem, estão com qualidade técnica cada vez maior), e via redes sociais estou sempre de olho nas seleções dos festivais regionais. Ainda tenho muita vontade de acompanhar presencialmente o Festival de Cinema de Santa Cruz.
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