Uma viagem, por menor que seja, sempre nos antecede com um frio na barriga, com aquele senso de aventura que nos faz sentir vivos. Ainda mais quando você está no avião para o destino dos seus sonhos. O meu era a Itália. Já me sentia conectada através da música, da arte, da culinária e das histórias que eu ouvia quando pequena, de pessoas que já tinham estado no território.
A língua italiana sempre soou melodiosa para os meus ouvidos, mesmo que eu não falasse o idioma. Mas, antes de embarcar, fiz questão de aprender o “básico”. Aquele clássico de viajante: saber fazer um pedido no restaurante e comprar um bilhete de trem. Mas também queria poder olhar nos olhos de quem me ajudasse na rua, de quem me servisse um café, e dizer “grazie” (obrigada) com verdade. Porque, para mim, viajar é se permitir entrar – com respeito – no mundo do outro. E deixar que esse mundo transforme o nosso.
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Não vim com um objetivo claro em mente: tirar uma foto na frente do Coliseu em Roma, andar de gôndola em Veneza ou visitar todos os museus de Firenze em um dia – a não ser conhecer mais profundamente os pilares desta cultura. Acredito que seguir um roteiro turístico comum é se limitar à oportunidade de criar memórias extraordinárias “além da rota comum”.
Estou vivendo em Turim, uma cidade “não turística” (pelo menos, não é mencionada com frequência nos roteiros de agências). Eu discordo! É uma cidade que me encantou em todos os aspectos: cafés históricos, museus (do Cinema, do Egito, de Arte Moderna), castelos e palácios, arquitetura impressionante, grandes praças, bons restaurantes, excelente conexão com a Europa e vilarejos ao redor com charme medieval. Talvez, justamente por não ser tão turística, eu tenha tido a chance de me aproximar da essência da cultura italiana, viver um pouco o estilo “dolce vita” e, no final, carregar a Itália também dentro do meu coração.

Quero lhes apresentar o conceito de turismo lento e consciente. Essa filosofia propõe que, mais do que cumprir um roteiro, a viagem seja sentida com qualidade, presença e verdade. O foco não é visitar todos os pontos turísticos, pois não é preciso ver tudo, é preciso mergulhar de corpo e alma e viver intensamente. Quando adotamos esse olhar durante a jornada, conseguimos aproveitar cada instante com mais presença. O verdadeiro destino passa a ser o processo – e como ele nos molda ao longo do caminho.
A Itália é um país surpreendente, com diferentes esfumaturas – das cores terrosas de Roma aos azuis que se refletem nos vidros dos edifícios modernos de Milão. Sem contar os pequenos vilarejos, que, por menores que sejam, carregam uma história e se revelam como pedras preciosas entre uma grande cidade e outra. Mas, talvez, se estivermos focados apenas em cumprir um roteiro sem permitir que nossos olhos vejam além, podemos acabar por perder a sensibilidade de perceber as infinitas nuances.
Seria como viver um lindo pôr do sol sem apreciar todas as suas cores. A Itália é como uma obra de arte a céu aberto – mas essa conexão emocional, esse senso de pertencimento, só emergem quando abrimos espaço para a atenção, a escuta e a inspiração silenciosa que vem da presença.
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É nesse contexto que dois conceitos se encontram: mindfulness e turismo lento. Mindfulness é a prática da atenção plena – o ato de estar presente no aqui e agora, com os sentidos despertos e o coração genuíno. É observar a vida sem pressa, sem julgamentos, apenas sendo parte do momento. O turismo lento é a aplicação dessa consciência ao ato de viajar. É caminhar por um vilarejo da campagna italiana não para “ver tudo”, mas para sentir o pulsar do ambiente, os gestos cotidianos, os aromas, os sabores dos temperos e as músicas que contam uma história.
Aprendi que os italianos vivem com mais leveza porque sabem saborear os pequenos prazeres da vida: oferecer um café, comer um panino no parque, brindar com uma taça de vinho, deixar a massa da pizza em fermentação lenta, tomar um gelato em um dia de sol… e tantos outros momentos simples, que, emendados, criam uma vida significativa e repleta de memórias afetivas.
Italianos também são realmente muito bons em não levar os problemas do trabalho para casa, como se houvesse uma chave que se desliga ao fechar a porta ao entrar. Eles entendem que o trabalho não define quem você é. E que o mundo já é cheio de preocupações; então, quando têm a possibilidade, vivem os momentos com leveza e alegria.
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Eles comem devagar, saboreando a culinária, da qual são muito orgulhos, e prolongam o tempo em torno da mesa celebrando histórias. Fazem passeggiate (o simples ato de sair para caminhar sem rumo) diariamente e estão sempre em movimento. São elegantes, seus olhos são moldados pela arte e sabem se vestir com estilo.
E eu tento ao máximo colocar em palavras as minhas percepções para vocês, meus queridos leitores. Mas lhes incentivo plenamente a viver tudo isso com os seus próximos olhos se tiverem a oportunidade de conhecer este país maravilhoso presencialmente.
Se o conceito de desacelerar, escutar histórias de lugares especiais e mergulhar nas próprias raízes faz sentido para você, o programa Italea pode ser um caminho a ser explorado. Lançado pelo Ministério das Relações Exteriores e da Cooperação Internacional da Itália, no âmbito do projeto PNRR, e financiado pela iniciativa NextGenerationEU, o Italea promove o Turismo das Raízes com foco na autenticidade e no pertencimento.
A iniciativa oferece roteiros personalizados, vivências culturais e o apoio de genealogistas e comunidades locais – tudo pensado para quem deseja descobrir a Itália de forma mais profunda, consciente e afetiva.
Mais do que visitar um país, trata-se de reencontrar parcela de si mesmo e fazer parte da cultura local (mesmo que por um breve tempo). Para saber mais, acesse www.italeapiemonte.com ou escreva para [email protected]
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