Artesã realiza último desejo de irmão e publica livro com poemas e crônicas dele: ‘Tudo muito bonito’


Tânia Fragoso encontrou um bilhete escrito por Márcio Fragoso, que morreu de Covid-19 em 2021, com um pedido inusitado. Ela compilou os textos escritos pelo irmão e viabilizou a publicação de um livro de 372 páginas. Professor fez vídeo recitando poema três meses antes de morrer no litoral de SP
Uma artesã realizou um dos últimos desejos do irmão, que morreu há três anos de Covid-19. Ela publicou um livro de 372 páginas com crônicas e poemas dele. O pedido de Márcio Fragoso estava escrito em uma carta, que foi encontrada dentro do bolso de uma bermuda do professor de Língua Portuguesa dias após a morte.
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“Essa carta que ele deixou me ajudar a superar, a entender a passagem do meu irmão. Porque a gente sofre muito. Eu era muito ligada a ele”, disse Tânia Fragoso, de 59 anos.
Ela acredita que o irmão tenha escrito a carta nos últimos dias de vida, pois, segundo ela, a escrita tem falhas. “[É] como se ele estivesse sem forças para segurar a caneta”.
Ao g1, Tânia contou ao g1 que o irmão foi internado em decorrência de problemas causados pela doença em 23 de julho de 2021. A artesã lembrou que o professor, à época com 60 anos, chegou a receber alta e a voltar para casa, mas, dois dias depois, precisou retornar à unidade de saúde.
Ela explicou que quadro ficou tão grave que, em função de um problema renal que já possuía, teve que fazer hemodiálise. Márcio precisou ser intubado e, no dia 4 de agosto daquele ano, não resistiu e morreu.
A carta
Márcio pediu que família fizesse ‘esforço conjunto’ para publicar os escritos dele
Arquivo pessoal
Tânia explicou que, ainda em vida, o irmão sempre falava sobre o desejo de lançar um livro. A irmã lembrou que Márcio tinha o costume de publicar inspirações nas redes sociais e, de tempos em tempos, a enviava um e-mail com o assunto: “Quase todos os meus quase poemas”.
De tão próximos, Márcio a chamava de “ímã” e era vizinho de porta dela. Uma semana após a morte, abalada pela perda inesperada, Tânia encontrou a carta após sentir uma vontade súbita de ir até o imóvel do irmão.
“Eu tive uma vontade muito forte. Parecia uma coisa me levando. Eu fui, abri a porta do apartamento e fui direto para um dos quartos, onde ele tinha uma cômoda. Eu fui naquela cômoda, numa gaveta específica, abri e achei uma bermuda”, relatou.
Professor de Língua Portuguesa morreu em agosto de 2021 após diagnóstico de Covid-19
Arquivo pessoal
Sempre que o irmão usava aquela peça de roupa, Tânia o elogiava. Justamente no bolso da bermuda, a artesã encontrou a carta contendo instruções que a família deveria seguir após a morte dele. “Eu concluí, com isso, que a carta era para mim”, disse ela, que ponderou: “Por que ele colocou naquela bermuda?”.
Tânia encontrou conforto no fato de considerar Márcio um ser humano espiritualizado. Entre outros assuntos do dia a dia, ele não hesitava em brincar sobre a morte mesmo quando ainda não havia sido diagnosticado com a Covid. Chegou a dizer que via Tânia e a irmã chorando em cima de seu caixão.
“Na carta, ele pede várias coisas, não somente o livro. Ele dá algumas orientações para a gente, fala algumas coisas. E a mais importante delas é que a gente fizesse um esforço para compilar os poemas”, disse.
Realização de um sonho
Márcio chamava Tânia (na foto à esq.) de ‘ímã’ devido à proximidade com ela
Arquivo pessoal
Tânia lançou uma vaquinha na internet e foi atrás de uma editora para concretizar o desejo do irmão. Como ele teve o cuidado de deixar as senhas das redes sociais para ela, foi simples acessar os textos e até rascunhos inacabados que ele havia deixado para criar o ‘Beijo Escrito’, como foi intitulado o livro.
“Eu busquei desde a entrada dele no Facebook, que foi em 2010, e fui dia após dia nas publicações dele para pegar as coisas que ele escrevia. Porque eu não queria deixar nada de fora”, recordou.
A artesã resolveu dividir o livro em oito capítulos, separados por temas: alguns foram textos cômicos, outros voltados à família e à vida como professor.
“Do momento que eu peguei essa carta, eu tenho a impressão de que os espíritos, o universo todo me guiou por esse trajeto […]. Tinha poesia dele que ficou inacabada. Tem uma parte no livro que eu coloquei as poesias inacabadas, rascunhos. E ficou tudo muito bonito, fluiu”, disse ela.
O livro será lançado a partir das 17h30 de 8 de agosto no Memorial das Conquistas, no estádio Vila Belmiro, em Santos.
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