Bióloga candelariense relata experiências de expedição na Antártica

A bióloga e aluna de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pampa (Unipampa de São Gabriel), Flavia Helena Aires Sousa, teve neste ano uma experiência que jamais esquecerá e que poucas pessoas têm a oportunidade de viver. 

Natural de Pinheiro, interior de Candelária, a jovem de 28 anos chegou no dia 31 de janeiro à Ilha de Livingston, na Península Elephant Point, na Antártica. No local, ficou acampada por 29 dias. Os desafios, como encarar uma nevasca de quase 50 horas e a falta de uma estrutura normal de acomodação, foram superados pelo aprendizado adquirido em um ambiente tão diferente. 

Após viajar pela Força Aérea Brasileira (FAB) de Pelotas até o Chile, e de lá deslocar-se por mais cinco dias a bordo do navio de apoio oceanográfico Ary Rongel até a Estação Antártica Comandante Ferraz, a casa do Brasil na Antártica, foi preciso encarar um voo de helicóptero até o destino final.

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“Embora já tivéssemos experiência de voo de helicóptero no treinamento, avistar a ilha pela primeira vez foi emocionante. Tivemos a sorte de acampar em um lugar incrivelmente bonito, com uma biodiversidade surpreendente, incluindo vegetação, fungos e grande variedade de animais”, diz Flavia, que estava acompanhada de seis pesquisadores e um alpinista.

Descobertas seguirão para novas pesquisas

Para organizar o acampamento com equipe e suprimentos, foram necessários 14 voos distribuídos em dois dias devido às condições climáticas. “Ao chegarmos, já era final da tarde, então nossa prioridade foi montar as barracas antes do anoitecer. A maioria da equipe possuía experiência com acampamentos, o que tornou o processo rápido e eficiente.”

No dia seguinte, foram realizadas caminhadas para reconhecimento da área “Logo de início, encontramos cogumelos, nosso principal objeto de estudo. A partir dali, as descobertas só aumentaram, e ao final da expedição havíamos registrado mais de mil basidiomas [cogumelos].”

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A bióloga conta que, ao fim da expedição, possivelmente identificarão mais de quatro espécies diferentes de cogumelos. Isso ultrapassa a quantidade descrita por uma coleta feita em 2023. As amostras foram armazenadas no freezer do navio e serão retiradas em Rio Grande, para posterior análise laboratorial.

“Estudos genéticos e ecológicos ajudarão a compreender melhor a distribuição e o papel desses fungos no ecossistema antártico”, enfatiza Flavia Aires Souza. A bióloga acrescenta que a documentação e o estudo dessas espécies são fundamentais na contribuição para políticas de conservação da biodiversidade antártica.

Saudade da família foi o maior desafio

A candelariense ressalta que o maior desafio pessoal foi a saudade da família. Já em termos climáticos, o vento teria sido a maior adversidade. “Enfrentamos rajadas de aproximadamente 100 quilômetros por hora. As temperaturas chegaram a 4 graus negativos, com sensação de 20 graus negativos.”

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Flavia relembra a forte nevasca que enfrentaram e que comprometeu o trabalho de campo temporariamente. “Passamos por uma nevasca de quase 50 horas, mas ver isso após 15 dias acampados foi um dos momentos mais emocionantes. O ambiente transformado pela neve trouxe uma nova perspectiva do local.” 

A falta de banho também foi um desafio, pois ficaram quase 30 dias usando apenas lenços umedecidos para higiene. “Outro momento especial foi a interação com os turistas estrangeiros que chegaram à ilha em três navios diferentes ao longo dos 29 dias. Em um deles até tomamos banho, o que foi um baita presente”, recorda.

Uma rotina diferente

Segundo Flavia, a rotina era intensa e bem estruturada. Durante o dia, os pesquisadores coletavam amostras e documentação em campo. O material era analisado no laboratório improvisado dentro do acampamento. “Além dos fungos, coletamos amostras de solo, briófitas e líquens.”

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As tarefas diárias eram divididas em rodízio, incluindo preparo das refeições e limpeza dos sanitários portáteis. “Dormíamos em barracas individuais, mas compartilhávamos barracas para cozinha, banheiro e o laboratório. Aos sábados, fazíamos a ‘noite da pizza’, um momento especial de descontração entre os acampantes.”

Paixão pela pesquisa

Para a doutoranda, a experiência reforçou sua paixão pela pesquisa e pela biodiversidade da Antártica. “Também fortaleceu minha capacidade de trabalho em equipe e resiliência. Foi um aprendizado sobre como enfrentar desafios em ambientes extremos, e como cada detalhe importa na manutenção de um ecossistema tão delicado.”

Ela salienta que, sem dúvida, voltaria para a Antártica. “A experiência foi transformadora, e eu adoraria voltar para continuar contribuindo com pesquisas sobre a funga antártica. Cada nova expedição é uma oportunidade de descobrir mais sobre esse ecossistema tão fascinante.”

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