J. Borges: ‘A Chegada da Prostituta no Céu’ foi o cordel mais vendido do artista pernambucano


Considerado um mestre da xilogravurista, cordelista morreu nesta sexta-feira (26), aos 88 anos, em Bezerros, interior de Pernambuco. Historiador fala sobre obra de J. Borges
“A Chegada da Prostitua no Céu”. O cordel mais famoso de J. Borges, publicado em 1976, teve mais de 100 mil exemplares comercializados. Segundo o historiador José Urbano, a obra é considerada um fenômeno de vendas, já que a média de tiragens para esse tipo de literatura é de dois mil exemplares.
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O xilogravurista, poeta e cordelista pernambucano morreu nesta sexta-feira (26), aos 88 anos, em Bezerros, interior de Pernambuco. O sepultamento está marcado para acontecer às 15h, no Cemitério Parques dos Eucaliptos, no bairro Santo Amaro, na mesma cidade.
A literatura de cordel é bastante conhecida no Nordeste do Brasil. São folhetos impressos de forma artesanal, muitos deles com técnicas da xilogravura, desenhos feitos no papel com o uso de “carimbos” entalhados na madeira, e comercializados expostos em barbantes nas feiras livres.
De acordo com Vera Lucia, supervisora de vendas do Centro de Artesanato de Bezerros, cidade onde J. Borges morava, o cordel era vendido por apenas R$ 3,00. Atualmente, porém, é difícil encontrar a obra à venda. Há sites que cobram R$ 218 pelo exemplar da Xilogravura, mesmo não tenho nenhum em estoque.
Na obra “A Chegada da Prostitua no Céu”, o artista conta a história de uma prostituta que, após a morte, foi para o inferno devido à vida que levava. A personagem tenta fugir do diabo e acaba indo parar na porta do paraíso, onde é acolhida por São Pedro, o santo que possui as Chaves do Céu.
J. Borges cita obra ‘A chegada da Prostitua no Céu’
Entre as letras polêmicas, J. Borges retrata um paraíso que acaba caindo na tentação mundana, com personagens bíblicos tendo casos amorosos com a personagem principal.
“Uma noite de São João dançou com São Expedito, levou xecho de São Brás, namorou com São Carlito e no fim da festa foi dormir com São Benedito”, relata J. Borges no cordel.
A sátira do cordel vem em versos que falam da dificuldade das mulheres que se sujeitam a esse tipo de trabalho, muitas vezes por não conseguirem outra forma de sustento.
“Na terra não teve apoio em meio a sociedade, levou a vida sofrendo e fazendo caridade, aceitando preto e branco que tinha necessidade”, trecho da fala de Jesus no cordel de J. Borges.
Antes de virar cordel, a obra era uma xilogravura. Na madeira, o artista esculpiu a personagem machucada na perna por uma mulher casada e sendo perseguida pelo diabo.
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Valor da xilogravura de J. Borges
Reprodução
Quem foi J. Borges
Natural da cidade de Bezerros, no Agreste de Pernambuco, J. Borges nasceu em 1935 e se consagrou como um dos maiores nomes da arte pernambucana.
Apesar de só ter frequentado a escola por um ano durante toda a sua vida, José Francisco Borges aprendeu a ler, escrever e criar.
A experiência com artes manuais, especialmente a marcenaria e a produção de móveis em miniatura, ajudou a formar o que se tornaria um dos maiores nomes da xilogravura – arte em relevo esculpida em madeira.
As gravuras inconfundíveis não se separam de outras artes populares como a literatura de cordel, formato no qual J. Borges também se tornou referência. Foi através da oralidade e da própria vivência que, mesmo longe da educação tradicional, o artista criou uma forma única de se conectar o povo, em especial agrestino e sertanejo.
O primeiro cordel de autoria própria foi publicado há 60 anos, em 1964: “O encontro de dois vaqueiros no sertão de Petrolina”. A partir de 1965, além de escrever, começou a produzir também a gravura dos folhetos, sendo “O verdadeiro aviso de Frei Damião” a primeiro obra sua com texto e imagens próprios.
Cordel de J. Borges teve mais de 100 mil exemplares
Divulgação
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