As tipuanas, a cidade e nós

Depois de ler a edição do fim de semana, quando a Gazeta do Sul, de forma muito apropriada, deu voz a técnicos para jogar luz sobre a polêmica que se formou em torno do Túnel Verde da Marechal Floriano, me sinto até constrangido em opinar sobre o assunto. Mas talvez a discussão não se esgote aqui e ainda estejamos longe de ter respostas definitivas para tantas dúvidas.

Para exemplificar, não só eu, mas muitas pessoas estão intrigadas: por que nada parecido (com o tombamento de tipuanas) aconteceu nas etapas anteriores da revitalização do centro da cidade, em condições climáticas de volume de chuva e intensidade de vento bem mais severas?

Seria mau presságio sobre a intervenção que, até prova em contrário, era adequada e necessária para revitalizar um espaço urbano vital para a população? Seria um flagrante a evidenciar desastrosas ações anteriores que mutilaram a estrutura das árvores? Ou seria consequência de um procedimento intempestivo, radical, que colocou um maquinário pesado a rasgar e sapatear a principal artéria do coração da cidade?

Por certo as respostas serão vagas. Mas até aos olhos de leigos no assunto, como eu, aquilo que se viu na Marechal Floriano semanas atrás parecia uma sangria desmedida. É como se estivessem operando um coração com talho de adaga. Sobrepôs-se urgência – necessária, sem dúvida – ao rigor técnico na execução da obra. E quando se atropela a sensatez e a ciência, não caem só as árvores, mas caímos todos nós como civilização.

Arrisco dizer que tem meia dúzia de interesseiros que sonham em ver as tipuanas no chão. Porque querem escancarar as fachadas velhas e decadentes do seu patrimônio na espreita de um desavisado que, esperam, venha a investir numa rua desnuda, sem folhas, sem vida, sem alma. E sem gente.

A Marechal Floriano é mágica sob a sombra das árvores. Sem elas, seria um corredor de passagem comum, sem atrativo, retrato de decadência, da nossa total incapacidade de ambientar o espaço urbano mais valorizado que temos para o bem-estar das pessoas e para os empreendedores.

Com algumas exceções – o prédio que hoje abriga a Casa das Artes Regina Simonis, sem dúvida, é um deles; o antigo prédio do Clube União, transformado em espaço comercial, é outro; o Quiosque da Praça não dá para relevar; o conjunto arquitetônico que compõe a fachada do Colégio São Luís – não há maiores atrativos em construções imponentes na nossa rua principal. Mas é ali que as pessoas querem estar: para fazer compras, para tomar um chope, degustar um sorvete, um lanche ou simplesmente para reunir e encontrar amigos para um happy hour abrigados pela sombra das tipuanas. Então, vamos ser resolutivos:

1 – Que se pense, antes de mais nada, nessa gente. Não nos carros e muito menos em caminhões pesados, maquinários truculentos, que são necessários para a nossa coletividade, sim, mas não podem intimidar a vida que pulsa sob o Túnel Verde.

2 – Seguindo essa linha de raciocínio, precisa mesmo escavar de tal forma a base das tipuanas a ponto de fragilizá-las, de lhes sonegar sustentação, para depois despejar toneladas de pedras no meio da rua para compor a base que deverá suportar o tráfego pesado que não deveria nem passar por aí?

3 – Rua coberta: se quiserem evoluir essa ideia, que se coloque a Floriano no radar. Seria a cereja do bolo para uma rua que já foi adotada pelas pessoas. Ela só precisa ser reconhecida por quem decide.

LEIA MAIS TEXTOS DE ROMEU NEUMANN

quer receber notícias de Santa Cruz do Sul e região no seu celular? Entre no nosso grupo de WhatsApp CLICANDO AQUI 📲 OU, no Telegram, em: t.me/portal_gaz. Ainda não é assinante Gazeta? Clique aqui e faça agora!

The post As tipuanas, a cidade e nós appeared first on GAZ – Notícias de Santa Cruz do Sul e Região.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.