Déficit hídrico e excessivo calor geram impactos no campo

A escassez de chuva já fez com que dezenas de municípios gaúchos decretassem situação de emergência neste início de ano. Devido ao déficit de recursos hídricos na Região Centro Serra, Sobradinho, Arroio do Tigre, Lagoão, Estrela Velha, Segredo, Passa Sete, Tunas, Ibarama e Lagoa Bonita do Sul estão nesta lista, e aguardam a homologação e reconhecimento pelos governos estadual e federal.

A baixa frequência de chuvas na região ou a quantidade insuficiente e localizada, gerou uma situação crítica de estiagem que já é sentida pelos produtores rurais, além de famílias que necessitam do abastecimento de água para consumo humano. Em Sobradinho, conforme o diretor da Secretaria de Obras e Serviços Urbanos, Paulo Dalmolin, o município já vem realizando a distribuição de água potável, há mais de 30 dias, para cerca de 10 famílias, além de trabalhar na abertura de bebedouros para dessedentação animal.

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Em Sobradinho, a escassez de chuva ou sua má distribuição prejudicou o desenvolvimento de lavouras de verão como as dos irmãos Cassol, de Campo da Aviação. Segundo Cleiton e Dirlei, as perdas em razão da estiagem podem alcançar 50%, reduzindo a expectativa de colheita por hectare de 70 para 35 sacos em média. Os números são uma estimativa, pois a colheita ainda não iniciou e as plantas seguem em desenvolvimento.

Conforme eles, os impactos se assemelham nas plantações em Sobradinho e Ibarama, onde possuem lavouras. “Nós começamos a plantar soja, da mais precoce, e na metade de dezembro parou de chover. Nas lavouras em Ibarama foram 37 dias sem nenhum pingo de água. E agora até tem dado umas chuvinhas, só que o calor é muito forte. Esse ano é mais frustrante ainda porque a soja estava bonita, no início choveu bem para desenvolver e depois para encher o grão não choveu mais”, salienta Cleiton. Dirlei acrescenta que, dessa plantação mais precoce, faltando pouco para colher, a chuva nos últimos dias já não fará muita diferença, com uma quebra praticamente irreversível.

Os produtores lembram também a diferença de precipitação de uma localidade para outra, destacando ter sido menor o volume, por exemplo, nas lavouras em Campo da Aviação e na zona urbana de Sobradinho. “A soja mais do cedo cresceu bem e faltou chuva para encher grão e formar a vagem. Já a mais tardia faltou chuva para crescer, então está pequena em estatura e também abortando vagem”, explica Dirlei. “É uma safra bem complicada. Além da estiagem, deram essas ondas de calor, que judiaram igual à seca ou mais”, mencionam.

Outro aspecto lembrado é em relação ao solo, que ainda levará algum tempo para se recuperar por completo da intempérie climática de abril e maio de 2024. “A região foi muito castigada. Estamos no 5º ou 6º ano já com uma ou outra intempérie. É muito extremo”, lembram os irmãos.

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Além da cultura da soja, que iniciará a colheita em breve, seguindo até meados de abril, falando em outras cultivares, sobre o trigo, colhido em novembro passado, a produção teve rendimento abaixo do esperado. “Em outras safras boas chegamos a colher 60 sacos por hectare, mas na do ano passado ficou entre 20 e 30”, menciona Dirlei. Já em relação ao tabaco, com a colheita finalizada, a safra foi positiva para eles. “O produtor sempre tem a esperança de que vai colher bem. A agricultura é um negócio a céu aberto, incerto. Estamos no ramo e tem épocas, fases boas e ruins, anos que se vai colher bem, vai dar mais, e anos com prejuízo”, salientam, mencionando também a importância da organização.

Impacto também na produção leiteira

Com uma rotina diária de ordenha do rebanho na propriedade localizada em Rincão do Segredo, interior de Sobradinho, o produtor Cleiton de Oliveira, 29 anos, viu a estiagem e as altas temperaturas impactarem na média mensal da produção de leite. Conforme o agricultor, de 11 mil litros mensais, a produção baixou para cerca de 6 a 7 mil litros, diminuindo também a rentabilidade da família, que tem a pecuária leiteira como carro-chefe, além do cultivo do tabaco.

Cleiton e a mãe Beloni de Oliveira

Com a falta de chuva, ocorreu a diminuição e enfraquecimento da pastagem, ampliando a necessidade de aumento na suplementação da alimentação dos animais. A silagem que Cleiton e a esposa Thayná Walter Nunes, 26 anos, têm de reserva é o que vem amenizando momentaneamente a elevação dos custos com a produção leiteira. Mesmo assim, as perdas são significativas e terão impacto também mais à frente, pois a atual safra de milho silagem está com rendimento comprometido, apresentando espigas com fraco desenvolvimento no enchimento dos grãos. “A hora que precisava da chuva para se desenvolver, ela não veio”, destaca Cleiton.

Atuando há cerca de sete anos com a bovinocultura de leite, segundo ele, o pasto de verão foi prejudicado, além da falta de chuva, pelo excessivo calor, e já não consegue mais rebrotar. No tabaco a falta de chuva também trouxe alguns impactos, mas não tão expressivos por já se estar no fim da colheita.

Estimativa de perdas é superior a R$ 27 milhões em Sobradinho

Conforme laudo elaborado pelo Escritório Municipal da Emater/RS-Ascar de Sobradinho, no início de fevereiro, a estimativa de perdas decorrentes da estiagem supera os R$ 27 milhões. Segundo o então chefe do escritório, Rotiére Guarienti, atual gerente da Regional da Emater de Soledade, a estiagem afeta todas as localidades, mas não de forma uniforme, em razão da diferença no acumulado de chuva.

Entre as atividades agropecuárias afetadas pela estiagem no município, a de maior perda em percentual é a soja, com estimativa em torno de 60%, o que representa cerca de R$ 8,8 milhões. Já a maior perda financeira se concentra até o momento no tabaco, com estimativa de quebra em 16%, cerca de R$ 10,6 milhões em prejuízos. Segundo Rotiére, o impacto no tabaco não está tão concentrado no peso, até porque muitos ainda não enfardaram nem passaram pela classificação, mas o excessivo calor poderá baixar a classe em alguns casos. Já no milho grão os prejuízos chegam na ordem de R$ 2,8 milhões, enquanto na bovinocultura de leite as perdas estimadas somam em torno de R$ 2,1 milhão.

O laudo da Emater, segundo Rotiére, também embasa o decreto de situação de emergência do Município, encaminhado para homologação da Defesa Civil Estadual e reconhecimento federal.

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