Posição de hélice de avião que caiu em SP pode indicar falha no motor, que é uma das causas investigadas


Investigação está a cargo do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) e ainda não tem prazo para ser concluída. Posição de hélice de avião que caiu em SP pode indicar possível falha no motor
A posição da hélice do avião de pequeno porte que caiu no meio de uma avenida movimentada na Zona Oeste de São Paulo na sexta-feira (7) pode indicar uma possível falha no motor, segundo especialistas. Essa é uma das linhas da investigação da Aeronáutica sobre a causa do acidente.
👉 Nas imagens do acidente, as pás de uma hélice aparecem embandeiradas, ou seja, viradas de lado (e não de frente). Esse procedimento faz com que as pás fiquem paralelas ao fluxo de ar, permitindo maior passagem do vento e dando mais estabilidade ao avião em caso de mau funcionamento do motor.
Bombeiros e técnicos do Cenipa no local do acidente; posição de hélices pode indicar falha no motor
Bruno Trentin/TV Globo
O engenheiro aeronáutico Jorge Leal, professor da Escola Politécnica da USP, explica que o embandeiramento “é um procedimento que se usa quando você perde o motor e você deixa a hélice alinhada com o vento. Ela vira uma pá, gira e dá tração ao avião”.
Ele afirma que, quando um motor deixa de funcionar, se a hélice ficar virada para a frente (como a de um ventilador), vai gerar um arrasto (força que faz resistência ao movimento) muito grande com a força feita pelo outro motor. Com o embandeiramento, a hélice fica de lado, dando mais estabilidade ao avião.
Os trabalhos de investigação estão a cargo do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) e ainda não têm prazo para serem concluídos.
Como foi o acidente
O modelo do avião era um King Air F90, fabricado em 1981, com capacidade para oito pessoas. O avião tentou fazer um pouso de emergência na pista da avenida, mas não conseguiu. Ele avançou sobre a pista, foi arrancando placas e árvores e bateu na traseira de um ônibus até explodir. “Só vi tudo voando e a bola de fogo”, contou Genival Dantas Arraes, que passava no local.
Uma gravação de áudio mostrou que o piloto tinha pedido autorização para voltar imediatamente ao aeroporto Campo de Marte, de onde tinha decolado.
As duas pessoas que estavam na aeronave morreram: o advogado Márcio Louzada Carpena, que era um dos donos do avião, e o piloto Gustavo Medeiros.
Outras sete pessoas ficaram feridas e receberam atenção policial, sendo que mais três foram encaminhadas a atendimento médico por conta própria, de acordo com apuração do SP2.
Oito já tiveram alta. Uma passageira do ônibus atingido ainda continua internada. Segundo a Secretaria de Saúde estadual, o estado de saúde dela é estável e ela vai passar por uma nova avaliação na tarde deste domingo. Uma outra pessoa ferida foi encaminhada para um hospital particular, mas não há informações sobre a situação dela.
Causas de acidentes
Dados do Cenipa coletados pelo g1 mostram que dois em cada dez acidentes aéreos no Brasil apresentaram falha ou mau funcionamento do motor das aeronaves.
Desde 2015, início da série histórica, foram registrados 1.580 acidentes aéreos no país. Desses, 355 estão ligados a falhas ou mau funcionamento no motor da aeronave, de forma isolada ou em conjunto com outros fatores. Esses números não incluem o acidente de sexta, ainda sob investigação.
Avião estava apto a voar
Neste ano, a aeronave que caiu chegou a ficar durante uma semana em manutenção preventiva em um hangar privado no Campo de Marte, na Zona Norte.
Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a aeronave podia operar normalmente apesar de um documento da agência apontar que havia três inconformidades nos documentos do avião momento de importação para o Brasil.
As inconformidades são em relação ao computador de dados aéreos, ao para-brisas e ao sistema de degelo (veja mais abaixo).
O avião foi importado dos Estados Unidos em 24 de novembro do ano passado. A vistoria é um procedimento de segurança que garante que a aeronave está de acordo com seu projeto original.
Avião com prefixo PS-FEM foi fabricado em 1981
Reprodução/TV Globo
Segundo a Anac, o comunicado que apontou as inconformidades foi enviado no dia 6 de fevereiro —ou seja, um dia antes da queda do avião— ao Profissional Credenciado em Aeronavegabilidade (PCA), responsável por atestar a conformidade do equipamento no momento de sua importação.
O comunicado exige do responsável uma resposta em até cinco dias sobre as três inconformidades apontadas. A agência ressaltou, no entanto, que a aeronave entrou no Brasil com Certificado de Aeronavegabilidade válido —ou seja, ela estava apta para operar no país, sem restrições (veja abaixo a explicação da Anac).
A Anac também destacou que o documento diz respeito “ao processo de informação documental (prestação de contas) da vistoria realizada pelo Profissional Credenciado à Anac”.
Segundo Fernando Catalano, professor da engenharia aeronáutica da USP de São Carlos, as não conformidades indicam a “necessidade de ajustes ou verificações nos registros e sistemas” para garantir que todas as informações estejam corretas e de acordo com os padrões e regulamentos aplicáveis. “Não significa que haja algum defeito”, ressalta.
De acordo com Catalano, as providências a serem tomadas em caso de descumprimento do prazo são variadas, podendo ir do impedimento da aeronave de voar a uma multa.
As três inconformidades encontradas pela Anac são:
Informações divergentes entre Laudo de Vistoria e tela de estação quanto ao equipamento ADC, que é um computador de dados aéreos que mostra ao piloto informações como altitude, velocidade e temperatura, por exemplo;
Verificação da falta de limpadores de parabrisas, declarados como instalados;
A não identificação de autorização para alteração no sistema de degelo das hélices.
Queda de avião em avenida de São Paulo matou duas pessoas
Veja o posicionamento da Anac:
“Primeiramente, a Anac lamenta o acidente ocorrido nessa sexta-feira (7/2) em São Paulo e presta solidariedade aos familiares das vítimas.
Os registros de manutenção realizados na aeronave acidentada encontram-se na posse do operador e da organização de manutenção que realizou o serviço.
Quando necessária manutenção, a aeronave deve ser encaminhada aos cuidados de entidade de manutenção certificada. A organização de manutenção registra todos os procedimentos realizados em sua documentação interna e na documentação da aeronave, que fica na posse do operador.
A investigação do acidente está a cargo do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), órgão do Comando da Aeronáutica que levantará, entre as informações necessárias para esse trabalho, todos os dados referentes à manutenção da aeronave.
Em relação à referida documentação indagada em sua demanda, informamos que a Anac enviou, em 6 de fevereiro 2025, um comunicado (documento anexo) ao Profissional Credenciado em Aeronavegabilidade (PCA) responsável por atestar a conformidade do equipamento no momento de sua importação dos Estados Unidos, em 24 de novembro de 2024. Esta vistoria, que é um procedimento de segurança, garante que determinada aeronave está de acordo com seu projeto original.
As informações enviadas pela Anac ao Profissional Credenciado sobre as não conformidades encontradas dizem respeito ao registro documental da vistoria apresentada à Anac. A aeronave adentrou o país com seu Certificado de Aeronavegabilidade (CA) válido. Com o CA válido, não há restrições. Significa que a aeronave estava apta para operar normalmente.
Sobre o PCA
De acordo com padrões internacionalmente aceitos para a aviação civil, o PCA é um profissional de notória especialização, para expedição de laudos, pareceres ou relatórios que demonstrem o cumprimento dos requisitos necessários à emissão de certificados ou atestados relativos às atividades de sua competência. Coube a esse profissional enviar à Anac os documentos comprobatórios da vistoria para liberação do Certificado de Aeronavegabilidade (CA) no Brasil.”
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