Florença: tanto a descobrir!

Por Beatrice Dummer, de Torino, Itália

A arte tem o poder de nos transportar para as camadas mais sutis da nossa alma. Nos leva a questionamentos profundos e reflexões, e à transcendência de nossos sentimentos para um estado de consciência maior. Era nisso que os artistas renascentistas também acreditavam: a beleza como forma de devoção.

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Considero a oportunidade de visitar Florença um grande privilégio. O berço do Renascimento, movimento que aconteceu entre os séculos 14 e 17, marcou o fim da Idade Média e marcou uma revolução no pensamento humano, com avanços na arte, na ciência, na filosofia e na política. A expressão artística, inspirada na Antiguidade Clássica, foi elevada para um novo patamar. Explorou temas como a anatomia e o corpo humano, a emoção e a beleza, e impulsionou diversas descobertas científicas e movimentos sociais que nos levaram em direção ao Iluminismo.

Através da arquitetura majestosa e rica em detalhes do Duomo Santa Maria del Fiori, a coleção de arte impressionante da família Médici (a família responsável pelo financiamento do Renascimento) e a Galleria dell’Accademia (onde está exposto Davide, de Michelangelo), é possível entender o conceito da imortalidade da arte. Um artista permanece vivo não apenas pela existência de sua obra, mas pelo impacto que ela continua a exercer na sociedade, reverberando suas ideias e refletindo sua visão.

Leonardo da Vinci, fascinado pelo voo dos pássaros, buscava entender e replicar esse princípio para que o ser humano também pudesse conquistar os céus. Com sua genialidade visionária, esboçou os primeiros conceitos de uma máquina voadora, antecipando em séculos a criação do avião. No entanto, as limitações tecnológicas da época impediram a concretização de suas ideias. Hoje, mais de 500 anos depois, ainda colhemos os frutos de seu legado, assim como de tantos outros conceitos renascentistas que só puderam se tornar realidade séculos após serem concebidos.

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Sempre imaginei Florença como uma cidade imensa, à altura de sua grandiosa importância histórica. Para minha surpresa, seu centro é compacto, com os principais pontos concentrados e facilmente acessíveis. Adorei poder explorar tudo a pé, sem a preocupação de me perder, como costuma acontecer em grandes capitais. Deixei-me guiar pelo instinto, e, sem perceber, sempre acabava retornando à praça principal, onde se encontram o Palazzo Vecchio e a Galleria degli Uffizi, lar de obras-primas como O Nascimento de Vênus e Primavera, de Botticelli.

Um dos momentos mais marcantes da viagem foi o instante em que me deparei com ela: a famosa Vênus. Até então, eu acreditava conhecê-la, pois suas imagens sempre estiveram presentes em livros de história e referências artísticas. No entanto, nada se compara à experiência de vê-la pessoalmente. A grandiosidade da obra é hipnotizante.

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Diferente da Mona Lisa, que, apesar de sua profundidade e importância, é uma figura pequena e delicada, Vênus se impõe com força e presença. Diante dela, fui tomada por uma profunda admiração. Era como se a brisa fresca do mar atravessasse a tela e tocasse meu rosto, como se as folhas da primavera caíssem suavemente aos meus pés, envolvendo-me na atmosfera etérea da pintura. A riqueza dos detalhes de Botticelli ficou gravada em minha memória, e por um breve instante senti que fazia parte daquela cena, imersa na beleza que transcende o tempo.

No pôr do sol, enquanto caminhava sobre a Ponte Vecchio – a única que sobreviveu aos bombardeios da Segunda Guerra –, detive-me para observar o Rio Arno seguir seu curso. Assim como suas águas, a história não é um conceito abstrato; ela flui diante de nós, moldando o presente e ecoando o passado. Em Florença, o percurso da humanidade se revela com uma clareza cristalina, como a nascente de um rio intocado no alto de uma montanha.

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Ao contemplar essa cidade, compreendi que sua influência vai muito além da estética ou da grandiosidade arquitetônica. Florença é um convite à transformação, é um espelho que reflete não apenas a genialidade dos seus artistas, mas também o potencial que existe dentro de cada um de nós. Sabia que, ao retornar para Turim, onde agora faço morada na Itália, algo em mim estaria diferente. É impossível conhecer Florença sem vivenciar um renascimento interno.

Michelangelo criou sua obra-prima a partir de um bloco de mármore que já havia sido esculpido por outros artistas e considerado inutilizável. No entanto, em suas mãos, aquela pedra se revelou uma das mais magníficas criações da história da arte. Seu exemplo nos ensina que a matéria-prima da transformação já está dentro de nós, esperando apenas o olhar certo para ser esculpida.

Que sejamos os escultores da nossa própria vida, compreendendo que não há um momento ideal ou ferramentas perfeitas para realizar os desejos mais profundos de nossa alma. Cheguei a Florença como uma simples turista, sem imaginar o impacto que essa cidade teria sobre mim. Parti como exploradora, com um olhar renovado e refinado para os detalhes sutis da vida. Em Florença, através da arte e da beleza, somos lapidados como um cristal, revelando facetas antes desconhecidas de nós mesmos.

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