Ainda há juízes em Berlim?

Ruy Armando Gessinger, meu pai, foi o segundo homem natural de Santa Cruz do Sul a tomar posse como desembargador no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, formado em Direito pela Ufrgs. Além de ter sido, na juventude, delegado de polícia e advogado, ele fez carreira como juiz de direito, atendendo as comarcas de Horizontina, Arroio do Meio, Santiago, Ijuí, São Leopoldo e Porto Alegre.
Nas primeiras duas comarcas, meu pai foi o primeiro juiz. Há cinquenta anos, a subseção da OAB de Santiago foi criada também com a ajuda dele.

Naturalmente, ao longo de toda a carreira dele aconteceram muitas histórias de julgamentos importantes dos quais meu pai participou ou das causas em que ele defendeu quando advogado, ofício que voltou a exercer depois de se aposentar da magistratura. Ele adora – e sabe – contar essas histórias, caprichando nos detalhes.

Meu pai tratava com lhaneza os advogados. Sempre buscava conciliar as lides, sendo equidistante entre as partes, mas auxiliando que achassem um denominador comum para encerrar a contenda. “Não pode deixar o processo dar cria”, é uma frase que traduz a filosofia que ele tinha ao analisar uma causa.

É salutar para a evolução da sociedade que o tempo passe, deixando para trás características bonitas ou feias das épocas. Mudanças precisam acontecer, mas não sempre de forma radical ou revolucionária.
Eu peguei o final da época do processo físico. Muito forcejei pelos balcões dos fóruns Rio Grande do Sul afora para tirar cópia daqueles cadernões. Era importantíssimo saber o nome de quem te atendia no balcão: fazia a diferença na hora de priorizarem alguma petição tua.

Em comarcas distantes, era fundamental ter um correspondente. Outro advogado para auxiliar com diligências ou mesmo para fazer uma audiência. A advocacia do interior sobrevivia disso.

Na sala dos advogados, quase sempre encontrei ambientes agradáveis, onde os colegas se juntavam para tomar um cafezinho e trocar experiências. A digitalização dos processos e a pandemia se encarregaram de praticamente extinguir esses momentos.

As revoluções vêm. Às vezes não para melhor, mas para sempre. Há também os retrocessos disfarçados de revolução.

Nos últimos meses, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a entidade que deveria fazer o controle de qualidade do Poder Judiciário em todos os âmbitos, tem feito um lamentável esforço para acabar com o direito de os advogados fazerem sustentações orais nos Tribunais. É uma postura, no mínimo, contra as bases da cidadania.

Não sei se ainda há juízes em Berlim; jamais haverá advocacia calada.

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