Melhorias no trânsito e transporte pública estão entre os principais desafios para gestão de João Pessoa


Levantamento do Núcleo de Dados da Rede Paraíba identificou que as áreas de educação e mobilidade urbana foram as mais discutidas durante a campanha para as Eleições 2024. Os assuntos também estão nas demandas da população. Trânsito em João Pessoa é desafio para nova gestão
Reprodução/TV Cabo Branco
As dificuldades de mobilidade urbana em João Pessoa estão em todo lugar. O trânsito cada vez mais intenso, a falta de espaço para veículos e o transporte público que não acompanha o crescimento da cidade afetam todos nós, de diferentes maneiras. Enquanto o transporte precisa levar as pessoas aos destinos, a educação, que deve levar oportunidades para um futuro melhor, também se torna um desafio para o poder público. Um levantamento do Núcleo de Dados da Rede Paraíba de Comunicação identificou, a partir das entrevistas e debates que aconteceram na campanha das Eleições 2024, que as áreas de saúde e emprego foram as mais discutidas entre os candidatos à prefeitura de João Pessoa. Os assuntos também são parte integrante das demandas sociais da população.
“O trânsito está numa fase muito complicada, tem muitos turistas na cidade. Eu acho que falta um pouco mais de guardas de trânsito, uma organização maior, para que o trânsito possa fluir. Muito estressante, eu dirijo o dia inteiro”, desabafa Luciana Andrade, motorista de transporte por aplicativo.
“Horrível, muito carro. João Pessoa não cabe mais carro não. Se bobear vai para o chão! Duas rodas? Se bobear, vai para o chão”, relata Edilson Andrade, motociclista.
Quando pedalamos, em busca de um estilo de vida mais saudável, em um meio de transporte sustentável…
“É difícil para o ciclista. Hoje nós temos ciclovias, mas ainda falta o respeito do motorista de veículos e a gente encontra dificuldade, sim… o pedestre também às vezes atravessa sem ver a ciclovia, né? Isso causa também acidente”, revela Avelino Queiroga, ciclista e comerciante.
Em João Pessoa, existem mais ciclofaixas do que ciclovias. Ciclistas da cidade se queixam de falta de investimento no ciclismo.
Semob/Divulgação
“Cada dia parece que fica pior, porque R$ 5,20 é um absurdo. Demora para chegar no trabalho. Às vezes quebra no caminho, fica o transtorno para gente que utiliza os ônibus para trabalhar, sempre quem sai no prejuízo somos nós”, desabafa David Nascimento, cozinheiro.
Todos nós, de diferentes maneiras, somos afetados. Esse cenário, que se agrava há várias gestões, evidencia um dos maiores desafios para o poder público municipal nos próximos quatro anos: transformar o trânsito em um aliado da qualidade de vida e do desenvolvimento sustentável. Mas, para que isso aconteça, é essencial investir em soluções que promovam a eficiência no deslocamento urbano, e uma das principais estratégias é a oferta de transporte público de qualidade.
A Semob-JP informou que segue todos os dias fiscalizando o trânsito da cidade, entre 5h e 00h, tanto com equipes em videomonitoramento, quanto nas vias públicas. Também estão em trâmite para iniciar o curso de formação dos novos 100 agentes de mobilidade, bem como investindo em tecnologia e em ações educativas.
Entre os assuntos de mobilidade urbana discutidos na campanha eleitoral de 2024, está o funcionamento prático do Terminal de Integração do Varadouro.
Passageiros na espera de ônibus no Terminal de Integração do Varadouro, em João Pessoa
Walter Paparazzo/G1
À época da campanha, a prefeitura de João Pessoa, por meio da Lei de Acesso à Informação, forneceu ao nosso Núcleo de Dados da Rede Paraíba, informações sobre a situação desse terminal.
Em resposta, a Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana (Semob-JP) informou que o sistema de integração física teve início após a reforma do antigo terminal urbano de passageiros, no ano de 2005, e a bilhetagem eletrônica foi implementada em 2006. em 2020, foram inseridas no Terminal do Varadouro as linhas metropolitanas. Mas outros problemas precisam ainda ser enfrentados.
A frota de ônibus também foi tema da campanha da gestão atual. Houve uma diminuição de linhas de ônibus na pandemia da Covid-19 e, mesmo após a pandemia, essa quantidade não voltou ao normal. A Semob de João Pessoa confirmou ao nosso Núcleo de Dados, por meio da Lei de Acesso à Informação, que, de fato, existe essa redução. Se em 2019 João Pessoa contava com 99 linhas de ônibus disponíveis, no ano passado, esse número chegou a 78.
Mesmo assim, o valor da passagem de ônibus, em João Pessoa, sofreu um reajuste de 30 centavos. Passou de R$ 4,90 para R$ 5,20. Uma das tarifas mais caras entre as capitais do nordeste.
Para os especialistas, quando a população tem menos opções de deslocamento, a exemplo do próprio transporte público, fica cada vez mais difícil reordenar um trânsito que não tem mais para onde fluir. São impactos de um planejamento ineficiente das cidades, ainda no processo de urbanização.
Trânsito intenso na Av. Pedro II, em João Pessoa
Walter Paparazzo/G1
O especialista em cidades inteligentes e sustentáveis, André Agra, explica o que pode causar esse inchaço no trânsito da capital. “É a quantidade de carro, de veículo particular, em relação à estrutura viária. Isso, por si só, já é incompatível, e por mais que haja esforço da gestão pública, ela não vai conseguir atender esse crescimento de fora, porque quanto mais espaço dá, mais congestionamento fica. Parece até que fere o bom senso, né? Mas não é assim. É, inclusive, uma equação matemática de mobilidade: não funciona priorizar o carro particular. Não funciona em João Pessoa, não funciona em Campina, em São Paulo, nem no mundo, e a gente precisa reavaliar essa percepção do que é qualidade e mobilidade urbana sustentável”, detalha.
A gestão passada prometeu instalar ar-condicionado, wi-fi e acessibilidade em toda a frota de ônibus do município. No entanto, a promessa não foi cumprida integralmente. Segundo a prefeitura, todos os 170 ônibus possuem wi-fi e entradas USB, mas constatamos que a maioria das linhas não dispõe destes itens. Todos os veículos, de fato, são acessíveis.
Novos ônibus opcionais “Geladinhos”, em João Pessoa
Divulgação/Semob-JP
Em 22 de dezembro de 2023, a prefeitura lançou 20 ônibus extras, os “geladinhos”, com ar-condicionado, wi-fi e entradas USB. Essas novas linhas têm tarifa mais cara e não oferecem gratuidade para os grupos prioritários.
Em nota, o Sintur-JP informou que “o transporte coletivo é planejado para frequência regular, depende da linha, mas as condições do trânsito, hoje, influenciam muito, tanto no transporte individual, como no coletivo […] A frota do geladinho vai ser ampliada em 50% até março, mas ainda sem gratuidade para grupos prioritários. O Sintur considera que esse é um serviço opcional”.
Nas novas promessas, o governo municipal reafirmou o compromisso de implantar o sistema rápido de ônibus, com corredores nas Avenidas Cruz das Armas, Pedro II, Epitácio Pessoa e 2 de Fevereiro. Além de terminais em Cruz das Armas, Cristo, Varadouro, Pedro II, Mangabeira, Bessa e um Terminal Metropolitano no Varadouro.
O projeto tem parceria com o Governo do Estado e agências internacionais de financiamento.
Em entrevista à rádio CBN, durante campanha eleitoral, Cícero Lucena explicou como o investimento vai funcionar na prática:
“Está projetado quatro corredores de transporte, onde vai ter um terminal de integração rodoferroviário, para ligar o trem aos ônibus junto da rodoviária, que vai ser construído pelo Governo do Estado. O primeiro corredor, que mais transporta gente, é o de Cruz das Armas, que eu desapropriei o terreno, junto do Viaduto de Oitizeiro, e doei ao Estado para o Terminal de Integração […] O Governo do Estado me doou o terreno do Almeidão para ser o outro Terminal Ferroviário da 2 de fevereiro, também passa pelo Centro, Jaguaribe e todos aqueles bairros. O terceiro terminal, da Pedro II, que é dentro do corredor BRS, vai ser feito pelo Governo do Estado. O quarto, onde tem o antigo Terminal do Bessa, que é o da Epitácio Pessoa indo quase no limite com Cabedelo, vai ser feito pela prefeitura”, detalha.
Transporte e educação foram os temas mais discutidos na campanha eleitoral de 2024 para prefeitura de João Pessoa
Reprodução/Núcleo de Dados
Educação também como caminho de dignidade
E enquanto o transporte precisa levar as pessoas aos destinos, com segurança e tranquilidade, a educação deve levar oportunidades para um futuro melhor. O levantamento do núcleo de dados identificou, a partir das entrevistas e debates que aconteceram nas eleições de 2024, que esse assunto também esteve entre os mais comentados entre os candidatos. Mais um desafio para a atual gestão.
A começar pela nota do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que avalia a qualidade da educação em estados e municípios. Em relação aos anos iniciais, do 1º ao 5º ano, houve uma queda no Ideb de João Pessoa entre 2019 e 2023. A nota passou de 5,4 em 2019 para 5 em 2021. Apesar de ser um período delicado para o país quando se enfrentava uma pandemia, a nota permaneceu quase a mesma em 2023. Nos anos finais, do 6º ao 9º ano, o desempenho também regrediu, com a nota caindo de 4,5 em 2021 para 4,1 em 2023.
Wilberto de Melo matriculou, pelo quarto ano seguido, o filho de 13 anos na Escola Municipal de Ensino Fundamental Castro Alves, no Funcionários I. Experiência que tem sido positiva, mas algo ainda o preocupa: uma reforma, que acontece desde 2023 e ainda não foi concluída. Situação que, segundo ele, diminui o número de salas disponíveis.
“Eu me surpreendi bastante, realmente, hoje está bem melhor, material didático, fardamento, tem um lanche que é fornecido, tudo certinho. Ele deu uma melhorada na leitura, porque também tem um acompanhamento de uma psicopedagoga, e na escrita, as notas dele melhoraram bastante. Porém, nessa escola, eles começaram uma obra que era para ter finalizado em agosto de 2023 e até hoje não finalizaram ainda, está em reforma, e tem muitas salas que ainda estão fechadas. Em 2024, no período da matrícula de 2024, nós tivemos que passar um período de aulas online, que é muito prejudicial até pela questão que a gente trabalha o dia todo”, explica Wilberto.
A secretária de Educação e Cultura de João Pessoa, América Castro, analisa a situação atual da cidade quanto ao ensino. “Quando a gente traz para os anos iniciais, que foi onde a gente massificou o nosso olhar nesses quatro anos, a gente vê um resultado positivo. Quando a gente aumenta os nossos níveis que são propostos lá pelo governo federal na avaliação do Ideb, João Pessoa hoje, pela proficiência, está na cor verde. Nunca esteve nessa cor”, diz.
Escola Municipal de Ensino Fundamental Castro Alves, no Funcionários I
Reprodução/TV Cabo Branco
Durante o primeiro mandato, o prefeito Cícero Lucena prometeu reformar escolas e CREIS, além de construir novas unidades de ensino. Segundo a prefeitura, foi assinada ordem de serviço para reforma de 104 unidades de ensino. Atualmente, 96 estão em reforma, e 41 já foram totalmente recuperadas e devolvidas à comunidade escolar. Porém, até o fim da primeira gestão, nenhuma nova escola foi construída.
Nas novas promessas de campanha, a gestão reafirmou o compromisso de construir mais unidades de ensino, incluindo 4 creches com recursos próprios e 9 creches financiadas pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.
Também prometeu criar mais 4 mil vagas em creches, o que pode ajudar a diminuir possíveis listas de espera.
“A gente tem no município, hoje, 18 unidades novas, não são unidades construídas, mas a gente foi buscar a maneira mais rápida de trazer o menino para dentro da rede, que foi alugando espaços, fazendo desapropriação de espaços, fazendo parcerias com instituições, instituições com a com também com entidades, igreja, tanto evangélica como católica, para que a gente pudesse colocar esses meninos para sentar. O Plano Municipal de Educação do município diz que a gente tem que atingir 35% da nossa demanda até 2025, até esse ano, que é o final do plano. Até o ano passado a gente tinha atingido já 23%. Com o universo de 15 creches que estão sendo construídas, a gente vai atender sim esse universo que são 1800 alunos a mais na rede”, detalha a secretária América Castro.
Dar atenção à mobilidade urbana em uma João Pessoa que só cresce, é investir em um futuro mais humano, onde o tempo, nosso recurso mais precioso, seja valorizado e aproveitado com sabedoria.
Investir em educação é garantir que esse tempo seja usado para transformar vidas, gerar oportunidades e construir uma sociedade mais igualitária. O cientista político Ítalo Fittipaldi explica:
“Pensar política pública sempre é pensar em redistribuição de poder, de uma certa forma. Alguns vão ser beneficiados quando a política pública tem uma certa configuração e outros, num primeiro momento, não vão ser beneficiados porque a política foi redesenhada. Isso tem conflitos. Conflitos que vão se materializar em impressão política para que a política pública ganhe um determinado contorno ou ganhe uma outra configuração que seja mais favorável àquele grupo que está demandando por ela. Então fazer política pública não é tão simples. Para além disso, é a necessidade de você ter uma administração pública qualificada que possa pensar políticas públicas de maneira mais eficaz e mais efetiva, para que possa ser implementado”.
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